Page 264 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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Eles contavam a história do homem como criador — das ferramentas de pedra no Museu de História
indígena Norte-americana aos jatos e foguetes do Museu Aeroespacial.
Se nossos ancestrais pudessem nos ver hoje, com certeza nos considerariam deuses.
Enquanto Langdon admirava através da bruma da aurora a vasta geometria dos museus e
monumentos à sua frente, seu olhar retornou ao Monumento a Washington. Ele imaginou a solitária
Bíblia dentro da pedra angular enterrada e pensou em como a Palavra de Deus era na verdade a
palavra do homem.
Pensou no grande circumponto e em como ele fora encravado na esplanada circular ao pé do
monumento na encruzilhada dos Estados Unidos. De repente, pensou na pequena caixa de pedra que
Peter lhe confiara. O cubo, ele agora percebia, havia se desmontado e se aberto para formar
exatamente a mesma figura geométrica: uma cruz com um circumponto no centro. Langdon teve de rir.
Até mesmo aquela caixinha estava indicando esta encruzilhada.
— Olhe, Robert! — Katherine apontou para o alto do monumento.
Langdon ergueu os olhos, mas não viu nada.
Então, observando com mais atenção, percebeu.
Do outro lado do National Mall, um diminuto pontinho de luz dourada do sol refletia no pico do
imenso obelisco. Seu brilho foi aumentando rapidamente, tornando-o mais radiante e fazendo-o cintilar
na ponta de alumínio do cume. Maravilhado, Langdon viu aquela luz se transformar em um farol que
pairou sobre a cidade escurecida. Pensou na pequena inscrição na lateral leste do cume de alumínio e
se deu conta, para seu espanto, de que o primeiro raio de luz do sol a atingir a capital todos os dias
iluminava duas palavras:
Laus Deo.
— Robert — sussurrou Katherine —, ninguém nunca vem aqui ao nascer do sol. Era isso que
Peter queria que nós víssemos.
Langdon sentiu seu coração bater mais rápido à medida que o brilho no alto do obelisco se
intensificava.
— Peter acha que foi por isso que os pais fundadores ergueram esse monumento tão alto. Não
sei se é verdade, mas de uma coisa tenho certeza... existe uma lei muito antiga decretando que nada
mais alto pode ser construído na nossa capital. Nunca.
A luz foi descendo pelo cume de alumínio à medida que o sol subia no horizonte atrás deles.
Enquanto assistia àquilo, Langdon quase podia sentir à sua volta as esferas celestiais traçando suas
órbitas eternas pelo vazio do espaço. Pensou no Grande Arquiteto do Universo e em como Peter
dissera especifica- mente que o tesouro que desejava mostrar a Langdon só podia ser desvendado pelo
Arquiteto. Langdon imaginara que ele estivesse se referindo a Warren Bellamy. Errei de Arquiteto.
Quando os raios de luz ficaram mais fortes, o brilho dourado engoliu todo o cume. A mente do
homem... recebendo a iluminação. A luz então começou a deslizar pelo monumento abaixo, iniciando a
mesma descida que realizava a cada manhã. O céu se movendo em direção à Terra... Deus se
conectando ao homem. Langdon se deu conta de que esse processo iria se reverter no final do dia. O
sol mergulharia a oeste e a luz tornaria a subir da Terra para o céu... preparando-se para um novo dia.
Ao seu lado, Katherine estremeceu e chegou um pouco mais perto dele. Langdon passou o
braço em volta do corpo dela. Com os dois ali em pé, em silêncio, o professor pensou sobre tudo o que
havia aprendido naquela noite. Pensou na crença de Katherine de que o mundo estava prestes a
mudar. Na fé de Peter de que uma idade de iluminação era iminente. E nas palavras de um grande
profeta que havia declarado com ousadia: Não há nada oculto que não será revelado, nem segredo que
não virá à luz.
Enquanto o sol nascia sobre Washington, Langdon olhou para o céu, onde o último resquício das
estrelas da noite se apagava. Pensou na ciência, na fé, no homem. Pensou em como todas as culturas,
de todos os países, em todos os tempos, sempre haviam compartilhado uma coisa. Nós todos temos
um Criador. Usamos nomes diferentes, rostos diferentes e preces diferentes, mas Deus é a constante
universal do homem. Ele é o símbolo que todos compartilhamos... o símbolo de todos os mistérios da
vida que não somos capazes de compreender. Os antigos louvavam a Deus como símbolo de nosso
potencial humano ilimitado, porém esse símbolo antigo tinha se perdido com o tempo. Até agora.
Naquele instante, parado no topo do Capitólio, com o calor do sol se espalhando ao seu redor,
Robert Langdon sentiu uma poderosa onda brotar no âmago de seu ser. Era uma emoção que ele
nunca havia sentido com tamanha profundidade na vida.
Esperança.