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— E, falando nisso, você conhece o relato da Bíblia sobre o “maná dos céus”?
                 Langdon não via ligação alguma entre os dois assuntos.
                 — Está se referindo à substância mágica que caiu do céu para alimentar os famintos?
                 —  Exatamente.  Dizia-se  que  essa  substância  curava  os  doentes,  dava  a  vida  eterna  e,
          estranhamente,  não  produzia  dejetos  depois  de  consumida.  —  Katherine  fez  uma  pausa,  como  se
          estivesse esperando que ele entendesse. — Robert — insistiu ela —, um alimento que caiu do céu? —
          Ela  cutucou  a  própria  têmpora.  —  Que  cura  o  corpo  por  magia?  Que  não  gera  dejetos?  Ainda  não
          entendeu? São palavras em código, Robert! Templo é um código para “corpo”: Céu é um código para
          “mente” A Escada de Jacó é a sua coluna vertebral. E o maná é essa rara secreção produzida pelo
          cérebro. Quando você vir essas palavras cifradas nas Escrituras, preste atenção. Elas muitas vezes são
          sinais de um significado mais profundo escondido sob a superfície.
                 Katherine  passou  a  falar  rápido,  explicando  como  a  mesma  substância  mágica  aparecia  em
          todos  os  Antigos  Mistérios:  néctar  dos  deuses,  elixir  da  vida,  fonte  da  juventude,  pedra  filosofal,
          ambrosia, orvalho, ojas, soma. Depois começou a dar uma longa explicação sobre como a glândula
          pineal representava o olho de Deus que tudo vê.
                 — Segundo Mateus 6:22 — disse ela com animação —, “Quando o teu olho for bom, todo o teu
          corpo terá luz”: Esse conceito também é representado pelo chacra ajna e pelo pontinho na testa dos
          hindus que...
                 Katherine se deteve abruptamente, parecendo encabulada.
                 —  Desculpe...  sei  que estou falando  sem  parar.  Mas  é  que  acho  tudo  isso  tão  emocionante!
          Passei anos estudando as afirmações dos antigos sobre o incrível poder mental do homem, e agora a
          ciência está nos mostrando que o acesso a esse poder se dá, na verdade, por meio de um processo
          físico.  Se  usado  corretamente,  nosso  cérebro  pode  invocar  poderes  literalmente  sobre-humanos.  A
          Bíblia, como muitos textos antigos, é uma exposição detalhada da máquina mais sofisticada de todos os
          tempos...  a  mente  humana.  —  Ela  deu  um  suspiro.  —  Por  incrível  que  pareça,  a  ciência  ainda  não
          alcançou todo o potencial da mente.
                 — Parece que seu trabalho com a noética vai representar um salto à frente nessa área.
                 — Talvez seja um salto para trás — disse ela. — Os antigos já conheciam muitas das verdades
          científicas  que  estamos  redescobrindo  atualmente.  Em  questão  de  anos,  o  homem  moderno  será
          forçado a aceitar algo hoje impensável: nossas mentes podem gerar energia capaz de transformar a
          matéria física. — Ela fez uma pausa. —As partículas reagem aos pensamentos... o que significa que
          nossos pensamentos têm o poder de mudar o mundo.
                 Langdon abriu um leve sorriso.
                 — Minha pesquisa me fez acreditar nisto: Deus é muito real... uma energia mental que permeia
          tudo — disse Katherine. — E nós, seres humanos, fomos criados a essa imagem...
                 — Como assim? — interrompeu Langdon. — Criados à imagem de... uma energia mental?
                 — Exatamente. Nossos corpos físicos evoluíram com o tempo, mas nossas mentes é que foram
          criadas à semelhança de Deus. Nós estamos levando a Bíblia muito ao pé de letra. Aprendemos que
          Deus nos criou à sua imagem, mas não são nossos corpos físicos que se assemelham a Deus, são
          nossas mentes.
                 Langdon se calara, totalmente fascinado.
                 — É esse o verdadeiro presente, Robert, e Deus está esperando que entendamos isso. Pelo
          mundo  todo,  ficamos  olhando  para  o  céu  à  procura  de  Deus...  sem  nunca  perceber  que  Ele  está
          esperando por nós. — Katherine fez uma pausa, dando tempo para aquelas palavras serem absorvidas.
          — Nós somos criadores, mas ainda assim ficamos ingenuamente fazendo o papel de criaturas. Vemos
          a nós mesmos como ovelhas indefesas, manipuladas pelo Deus que nos criou. Nos ajoelhamos como
          crianças  assustadas,  implorando  ajuda,  perdão,  boa  sorte.  Mas,  quando  percebermos  que  somos
          realmente  feitos  à  imagem  do  Criador,  vamos  começar  a  entender  que  nós  também  devemos  ser
          criadores. Assim que entendermos esse fato, as portas do potencial humano irão se escancarar.
                 Langdon se lembrou de um trecho da obra do filósofo Manly P. Hall: Se o infinito não quisesse
          que o homem fosse sábio, não teria lhe dado a faculdade de saber. Langdon tornou a erguer os olhos
          para  A  Apoteose  de  Washington  —  a  ascensão  simbólica  do  homem  à  divindade.  A  criatura...  se
          transformando em Criador.
                 — O mais incrível de tudo — disse Katherine — é que, assim que nós, humanos, começarmos a
          dominar  nosso  verdadeiro  poder,  teremos  enorme  controle  sobre  o  mundo.  Seremos  capazes  de
          projetar a realidade em vez de simplesmente reagir a ela.
                 Langdon baixou os olhos.
                 — Parece... perigoso.
                 Katherine ficou surpresa... e impressionada.
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