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Peter baixou a voz, falando num sussurro:
— Buda disse: “Você mesmo é Deus.” Jesus ensinou que “O reino de Deus está entre vós” e
chegou até a nos prometer que “Quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maior do que elas”:
Até mesmo o primeiro antipapa, Hipólito de Roma, citou a mesma mensagem, dita pela primeira vez
pelo erudito gnóstico Monoimus: “Abandone a busca por Deus... em vez disso, procure por ele tomando
a si mesmo como ponto de partida.”
Langdon se lembrou da Casa do Templo, onde a cadeira do Cobridor da loja trazia, em seu
espaldar, a inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO.
— Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se
esqueceu de que é divino — contou Peter com um fiapo de voz.
— Peter, entendo o que você está falando... de verdade. E adoraria acreditar que somos divinos,
mas não vejo deuses andando sobre a Terra. Não vejo pessoas com poderes sobre-humanos. Você
pode citar os supostos milagres da Bíblia, ou qualquer outro texto religioso, mas tudo isso não passa de
velhas histórias fabricadas pelo homem que o tempo se encarregou de exagerar.
— Pode ser — disse Peter. — Ou talvez seja preciso que a nossa ciência alcance a sabedoria
dos antigos. — Ele fez uma pausa. — O engraçado é que... eu acho que a pesquisa de Katherine pode
estar prestes a fazer justamente isso.
Langdon recordou de repente que Katherine tinha saído correndo da Casa do Templo.
— Para onde ela foi, afinal?
— Ela volta já — respondeu Peter com um sorriso. — Foi só confirmar uma notícia maravilhosa.
Do lado de fora, junto à base do monumento, Peter Solomon sentiu-se revigorado ao respirar o
ar da noite. Achando graça, ficou observando Langdon examinar atentamente o chão, coçar a cabeça e
olhar em volta para o pé do obelisco.
— Professor — brincou Peter —, a pedra angular que contém a Bíblia está debaixo da terra. Não
dá para termos acesso ao livro, mas garanto que ele está lá.
— Eu acredito em você — disse Langdon, parecendo imerso em pensamentos. — Mas é que...
percebi uma coisa.
Langdon então recuou e correu os olhos pela grande esplanada sobre a qual se erguia o
Monumento a Washington. O espaço que circundava o obelisco era feito inteiramente de pedra
branca... com exceção de dois caminhos decorativos de pedra escura, que formavam dois círculos
concêntricos em volta do monumento.
— Um círculo dentro de um círculo — disse Langdon. — Nunca percebi que o Monumento a
Washington ficava no meio de um círculo dentro de um círculo.
Peter teve de rir. Ele não deixa escapar nada.
— É, o grande circumponto... o símbolo universal de Deus... na encruzilhada dos Estados
Unidos. — Ele encolheu os ombros, fingindo modéstia. — Tenho certeza de que é só coincidência.
Langdon, que agora olhava para o céu, parecia muito longe dali. Seus olhos subiam pelo
obelisco iluminado, que brilhava muito branco em contraste com o céu negro de inverno.
Peter sentiu que o amigo estava começando a ver aquela criação como o que era de fato... um
lembrete silencioso do conhecimento antigo... um ícone do homem esclarecido bem no centro de uma
grande nação. Embora Peter não pudesse ver o pequeno cume de alumínio no topo, sabia que a peça
estava lá: a mente iluminada do homem tentando alcançar o céu.
Laus Deo.
— Peter? — Langdon se aproximou, parecendo ter acabado de passar por algum tipo de
iniciação mística. — Quase esqueci — disse ele, pondo a mão no bolso e sacando o anel maçônico do
amigo. — Passei a noite inteira querendo devolver isto aqui a você.
— Obrigado, Robert. — Peter estendeu a mão esquerda e pegou o anel, admirando-o. — Todo
esse segredo e mistério em torno deste anel e da Pirâmide Maçônica... teve uma influência enorme na
minha vida, sabe? Quando eu era jovem, a pirâmide me foi entregue com a promessa de que escondia
segredos místicos. O simples fato de ela existir me levou a acreditar que havia grandes mistérios no
mundo. Atiçou minha curiosidade, não me deixou perder a capacidade de me maravilhar e me inspirou
a abrir a mente aos Antigos Mistérios. — Ele deu um sorriso discreto e guardou o anel no bolso. —
Agora vejo que a verdadeira finalidade da Pirâmide Maçônica era criar esse fascínio, e não revelar as
respostas.
Os dois passaram um bom tempo em silêncio ao pé do obelisco.
Quando Langdon finalmente falou, seu tom foi sério.
— Preciso pedir um favor a você, Peter... como amigo.
— É claro. Qualquer coisa.
Langdon fez o pedido... com firmeza.