Page 14 - 4
P. 14

FRAGMENTA HISTORICA                     Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Ataídes e
                                                   das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira
                                                                               (séculos XV‐XVI)
                            “É grã caza de Atouguia;  considerando trabalhos que não incidem
                       e a que tem no Minho e Douro   directamente sobre o estudo das Casas mas
                              fez cousas dalta valia,  que  ao  estudarem  figuras  destacadas  destas
                         venceram o grão Rei mouro;   acabam por tocar a história de diversas das
                         Luís Fernandes hoje em dia”  casas condais , escasseiam estudos de caso
                                                                  7
                  (Quintanilha de D. João Ribeiro Gaio )  que permitam perceber quais os critérios a
                                              1
                                                      partir dos quais se hierarquizavam estas Casas
           Introdução                                 entre si e também quais as mais salientes, em
           A linhagem dos Ataídes, enquanto uma das   função dos diferentes reinados e conjunturas
           mais  antigas  do  Reino,  deu  origem,  como   históricas.
           é sabido, nos séculos XV e XVI, à fundação   Se alargarmos o escopo de análise ao século
           de  duas  Casas  distintas.  Por  um  lado,  a  Casa   XVI  e  considerarmos  também  as  titulações
           da Atouguia nascida na primeira metade de   atribuídas por D. Manuel I, D. João III e D.
           Quatrocentos e titulada em 1448, e por outro,   Sebastião, compreende-se como alguns destes
           a Casa da Castanheira nascida em processo   estudos têm tido renovado folgo não apenas
           de cisão com esta última a partir dos finais do   nos trabalhos já realizados para as Casas
           século XV e titulada em 1532. A circunstância   de Bragança ,  Marialva/Loulé  (Coutinhos) ,
                                                                 8
                                                                                          9
                                                                     10
           de na mesma linhagem coexistirem duas Casas   Atouguia (Ataídes)  e Castanheira (Ataídes) ,
                                                                                          11
           tituladas  não  constitui  motivo  excepcional   mas também nos mais recentes trabalhos para
                                                                                        12
           durante  a  dinastia  de  Avis  por  serem   as Casas de Vila Real (Noronha/Meneses)  e
           conhecidos outros casos semelhantes, de
           que  o  exemplo  da  linhagem  dos  Coutinhos   da casa em tempo do seu 1º conde.
           é  paradigmático . No entanto, apesar dos   7  É  o caso dos variados trabalhos publicados  em
                        2
           estudos realizados para as mais importantes   Descobridores  do  Brasil.  Exploradores  do  Atlântico  e
           casas  quatrocentistas,  no  âmbito  de  duques   Construtores do Estado da Índia, coordenação de João
                                                      Paulo Oliveira e Costa, Lisboa, SHIP, 2000; A Nobreza e
           e marqueses, sobretudo as de Bragança  e de   a Expansão. Estudos Biográficos, coordenação de João
                                           3
           Vila Real , permanecem ainda em falta estudos   Paulo Oliveira e Costa, Cascais, Patrimonia, 2000 e  A
                 4
           sobre as múltiplas casas condais. Nesta área,   Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas
           apesar das análises já realizadas para as Casas   do Colóquio Internacional, coordenação de João Paulo
                                                      Oliveira e Costa e Vítor Rodrigues, Lisboa, CHAM/IICT,
           de  Marialva   e  de  Borba/Redondo   e  mesmo   2004.
                    5
                                      6
                                                      8  Além de Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança
           1  Cf. António Machado de Faria,  Armorial Lusitano,   (1560-1640):  práticas  senhoriais  e  redes  clientelares,
           Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1961, p. 64.  Lisboa,  Estampa,  2000,  refiram-se  os  resultados  do
           2  Relembre-se a coexistência simultânea da Casa de   projecto em torno de D. Teodósio I, 5º duque de
           Marialva mais antiga e a partir da qual se verificou a   Bragança, cuja publicação em livro se aguarda.
           ascensão da linhagem, com a Casa de Borba/Redondo,   9  Cf. Luís Filipe Oliveira,  Outro  venturoso  de  finais  do
           a partir da década de 1480, fundada por um membro   século  XV:  Francisco  Coutinho,  Conde  de  Marialva  e
           da Casa de Marialva (Cf. Nota 6). O mesmo fenómeno   Loulé, separata a Alta Nobreza e Fundação do Estado
           se verifica, embora já no século XVI, na linhagem dos   da Índia, Lisboa, CHAM, 2004; Luís Filipe Oliveira, “O
           Noronhas/Meneses com a emergência da Casa de   Arquivo dos condes de Marialva num inventário do
           Linhares, a partir da Casa de Vila Real (Cf. Nota 12).  século XVI”, in  Elites e Redes Clientelares: problemas
           3  Cf. Mafalda Soares da Cunha,  Linhagem, Parentesco   metodológicos, edição de F. Themudo Barata, Évora,
           e Poder. A Casa de Bragança (1384-1460), Lisboa,   2001, pp. 221-261.
           Fundação Casa de Bragança, 1990.           10  Cf. Nuno Vila-Santa,  Entre o Reino e o Império: a
           4  Cf. Nuno Silva Campos,  D. Pedro de Meneses e a   carreira político-militar de D. Luís de Ataíde 1516-1581,
           construção da Casa de Vila Real (1415-1437), Évora,   Lisboa, ICS/Câmara Municipal de Peniche, 2015 onde se
           Colibri/Centro Interdisciplinar de História, Culturas e   realiza o estudo desta Casa durante o século XVI.
           Sociedades da Universidade de Évora, 2004.  11  Cf. Maria Paula Coelho de Carvalho,  A acção
           5  Cf. Luís Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos. Linhagem,   ultramarina de D. António de Ataíde, 1º Conde da
           Espaço e Poder (1360-1452), Cascais, Patrimonia, 1999.  Castanheira, dissertação de mestrado apresentada à
           6  Cf. Maria Rosalina Bento Semião, D. Vasco Coutinho,   Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2001
           conde de Borba e capitão de Arzila, dissertação de   onde se refere a estrutura patrimonial desta Casa.
           mestrado apresentada à  Faculdade de Letras da   12  Cf. Carlos Manuel da Silva Moura, A Casa senhorial
           Universidade de Lisboa, 2002 onde é realizado o estudo   dos Condes e Marqueses de Vila Real (Séculos XV-XVI),

           14
   9   10   11   12   13   14   15   16   17   18   19