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FRAGMENTA HISTORICA Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Ataídes e
das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira
(séculos XV‐XVI)
“É grã caza de Atouguia; considerando trabalhos que não incidem
e a que tem no Minho e Douro directamente sobre o estudo das Casas mas
fez cousas dalta valia, que ao estudarem figuras destacadas destas
venceram o grão Rei mouro; acabam por tocar a história de diversas das
Luís Fernandes hoje em dia” casas condais , escasseiam estudos de caso
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(Quintanilha de D. João Ribeiro Gaio ) que permitam perceber quais os critérios a
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partir dos quais se hierarquizavam estas Casas
Introdução entre si e também quais as mais salientes, em
A linhagem dos Ataídes, enquanto uma das função dos diferentes reinados e conjunturas
mais antigas do Reino, deu origem, como históricas.
é sabido, nos séculos XV e XVI, à fundação Se alargarmos o escopo de análise ao século
de duas Casas distintas. Por um lado, a Casa XVI e considerarmos também as titulações
da Atouguia nascida na primeira metade de atribuídas por D. Manuel I, D. João III e D.
Quatrocentos e titulada em 1448, e por outro, Sebastião, compreende-se como alguns destes
a Casa da Castanheira nascida em processo estudos têm tido renovado folgo não apenas
de cisão com esta última a partir dos finais do nos trabalhos já realizados para as Casas
século XV e titulada em 1532. A circunstância de Bragança , Marialva/Loulé (Coutinhos) ,
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de na mesma linhagem coexistirem duas Casas Atouguia (Ataídes) e Castanheira (Ataídes) ,
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tituladas não constitui motivo excepcional mas também nos mais recentes trabalhos para
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durante a dinastia de Avis por serem as Casas de Vila Real (Noronha/Meneses) e
conhecidos outros casos semelhantes, de
que o exemplo da linhagem dos Coutinhos da casa em tempo do seu 1º conde.
é paradigmático . No entanto, apesar dos 7 É o caso dos variados trabalhos publicados em
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estudos realizados para as mais importantes Descobridores do Brasil. Exploradores do Atlântico e
casas quatrocentistas, no âmbito de duques Construtores do Estado da Índia, coordenação de João
Paulo Oliveira e Costa, Lisboa, SHIP, 2000; A Nobreza e
e marqueses, sobretudo as de Bragança e de a Expansão. Estudos Biográficos, coordenação de João
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Vila Real , permanecem ainda em falta estudos Paulo Oliveira e Costa, Cascais, Patrimonia, 2000 e A
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sobre as múltiplas casas condais. Nesta área, Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas
apesar das análises já realizadas para as Casas do Colóquio Internacional, coordenação de João Paulo
Oliveira e Costa e Vítor Rodrigues, Lisboa, CHAM/IICT,
de Marialva e de Borba/Redondo e mesmo 2004.
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8 Além de Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança
1 Cf. António Machado de Faria, Armorial Lusitano, (1560-1640): práticas senhoriais e redes clientelares,
Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1961, p. 64. Lisboa, Estampa, 2000, refiram-se os resultados do
2 Relembre-se a coexistência simultânea da Casa de projecto em torno de D. Teodósio I, 5º duque de
Marialva mais antiga e a partir da qual se verificou a Bragança, cuja publicação em livro se aguarda.
ascensão da linhagem, com a Casa de Borba/Redondo, 9 Cf. Luís Filipe Oliveira, Outro venturoso de finais do
a partir da década de 1480, fundada por um membro século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e
da Casa de Marialva (Cf. Nota 6). O mesmo fenómeno Loulé, separata a Alta Nobreza e Fundação do Estado
se verifica, embora já no século XVI, na linhagem dos da Índia, Lisboa, CHAM, 2004; Luís Filipe Oliveira, “O
Noronhas/Meneses com a emergência da Casa de Arquivo dos condes de Marialva num inventário do
Linhares, a partir da Casa de Vila Real (Cf. Nota 12). século XVI”, in Elites e Redes Clientelares: problemas
3 Cf. Mafalda Soares da Cunha, Linhagem, Parentesco metodológicos, edição de F. Themudo Barata, Évora,
e Poder. A Casa de Bragança (1384-1460), Lisboa, 2001, pp. 221-261.
Fundação Casa de Bragança, 1990. 10 Cf. Nuno Vila-Santa, Entre o Reino e o Império: a
4 Cf. Nuno Silva Campos, D. Pedro de Meneses e a carreira político-militar de D. Luís de Ataíde 1516-1581,
construção da Casa de Vila Real (1415-1437), Évora, Lisboa, ICS/Câmara Municipal de Peniche, 2015 onde se
Colibri/Centro Interdisciplinar de História, Culturas e realiza o estudo desta Casa durante o século XVI.
Sociedades da Universidade de Évora, 2004. 11 Cf. Maria Paula Coelho de Carvalho, A acção
5 Cf. Luís Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos. Linhagem, ultramarina de D. António de Ataíde, 1º Conde da
Espaço e Poder (1360-1452), Cascais, Patrimonia, 1999. Castanheira, dissertação de mestrado apresentada à
6 Cf. Maria Rosalina Bento Semião, D. Vasco Coutinho, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2001
conde de Borba e capitão de Arzila, dissertação de onde se refere a estrutura patrimonial desta Casa.
mestrado apresentada à Faculdade de Letras da 12 Cf. Carlos Manuel da Silva Moura, A Casa senhorial
Universidade de Lisboa, 2002 onde é realizado o estudo dos Condes e Marqueses de Vila Real (Séculos XV-XVI),
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