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FRAGMENTA HISTORICA Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Ataídes e
das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira
(séculos XV‐XVI)
realeza de D. João I, desde que este era mestre Ataíde, Vasco Fernandes de Ataíde, D. Isabel de
de Avis, combatente em Aljubarrota e figura, Ataíde, D. Helena de Ataíde, D. Filipa de Ataíde
naqueles anos, em processo de ascensão e D. Catarina de Ataíde . Ainda antes do seu
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político-militar, que o levaria a alcançar a regresso, recebeu do rei e da rainha os bens
prestigiante nomeação de marechal do Reino, que tinham pertencido ao marido e a quinta
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em 1397 . Tendo Mécia Vasques e seus filhos de Randufe, no termo de Chaves, pelo serviço
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acompanhado o marido durante o cerco, em de “criar nossos filhos” . Estes bens, à data
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atenção ao seu parentesco e por provável incerta da sua morte, devem ter revertido para
intercessão de Gonçalo Vasques Coutinho, os Coutinhos por não existir referência deles
D. João I já lhe concedera o privilégio de um na Casa de Atouguia. Tendo sido nomeada
cântaro de água por dia . Na altura, muito aia dos quatros primeiros infantes (D. Duarte,
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provavelmente Álvaro Gonçalves de Ataíde, D. Pedro, D. Henrique e D. Isabel), em data
primogénito do casal, deverá ter sido o filho desconhecida , Mécia Vasques teve ocasião
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escolhido como penhor entregue a D. João I, não só de reforçar os serviços da linhagem
aquando da negociação da rendição. dos Coutinhos, mas também de reabilitar e
Perante a autorização do monarca castelhano, relançar a linhagem dos Ataídes por ser mãe do
que lhe agradeceu os serviços e lhe prometeu representante da linhagem: Álvaro Gonçalves
mercês do lado de lá da fronteira, Martim de Ataíde.
Gonçalves de Ataíde entregou Chaves .
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Tendo partido para Castela com a esposa e 2. Álvaro Gonçalves de Ataíde e o nascimento
seus filhos, os seus bens foram entregues a da Casa de Atouguia (1402-1452)
Gonçalo Vasques Coutinho , com excepção da
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cidade de Chaves, a qual foi doada a D. Nuno A decisão joanina de aceitar o retorno de Mécia
Álvares Pereira , integrando futuramente Vasques e dos seus descendentes inseriu-se na
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o património da Casa de Bragança. Martim sua política nobiliárquica de continuidade de
Gonçalves deverá ter vivido até 1392, pois serviço e de influência das principais linhagens
ainda matou um português com uma lança em do reinado fernandino, alterando-se apenas
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Villalobos , aquando da incursão portuguesa o seu peso correlativo . São conhecidos
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em Castela. vários outros casos de reabilitação política e
social, sendo o mais destacado o de D. Pedro
Provavelmente a propósito do seu falecimento de Meneses, 1º capitão de Ceuta e fundador
e ainda durante a invasão portuguesa a
Castela , é possível, contudo, que D. João I
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tenha decidido autorizar o regresso a Portugal 55 Cf. Genealogia 1: Ascendência e Descendência dos
de Mécia Vasques Coutinho e dos seus filhos Ataíde nos séculos XIV e XV, na qual se exclui a análise
e criados. Por intercessão de Gonçalo Vasques do ramo de Nuno Gonçalves de Ataíde, senhor de
Gaião, e irmão de Martim Gonçalves de Ataíde, cuja
Coutinho e de Beatriz Gonçalves de Moura, descendência no século XVI viria a recair no conhecido
que devia servir na Casa da rainha D. Filipa capitão de Safim, Nuno Fernandes de Ataíde. Sobre esta
(r. 1387-1415) desde o seu casamento com figura e a sua ascendência veja-se o estudo de André
D. João I , Mécia Vasques regressou com Teixeira, “Nuno Fernandes de Ataíde, o nunca está
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quedo, capitão de Safim” in A Nobreza e a Expansão.
os seus descendentes: Álvaro Gonçalves de Estudos Biográficos, Cascais, Patrimonia, 2000, pp. 159-
207.
47 Cf. Ibidem, p. 60; João Paulo Oliveira e Costa, Henrique, 56 Cf. Arquivo Nacional Torre do Tombo [ANTT],
o Infante, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2009, p. 40. Chancelaria de D. João I [CDJI], livro 2, fl. 148, Viseu,
48 Cf. Fernão Lopes, Op. Cit., vol. II, cap. LXIII. 23.IX.1389 – PUB. Chancelarias Portuguesas: D. João
49 Cf. Ibidem, cap. LXVIII. I, tomo 3, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da
50 Cf. Luís Filipe Oliveira, Op. Cit., p. 37. Universidade Nova de Lisboa, doc. 535,
51 Cf. Fernão Lopes, Op. Cit., vol. II, cap. CVII. 57 Cf. ANTT, CDJI, livro 2, fl. 180, Porto, 16.X.1386 – PUB.
52 Cf. Ibidem, cap. CVII. Ibidem, tomo 3, doc. 1455, p. 218.
53 Cf. Maria Helena da Cruz Coelho, Op. Cit., pp. 97-103. 58 Cf. João Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit., p. 40.
54 Visto ser aia da rainha (Cf. Maria Helena da Cruz 59 Cf. Mafalda Soares da Cunha, “A nobreza
Coelho, Op. Cit., p. 143). portuguesa…”, p. 227.
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