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Nuno Vila‐Santa                                               FRAGMENTA HISTORICA


           V . Tal sucedeu não apenas por ser “homem   dos infantes de Aragão . Despontando já
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                                                                           126
           prudente e  bem razoado, e de que muito    nesse episódio de 1440 bem como noutro
           fiava”  o infante D. Pedro, mas também     da mesma época a veia militar do jovem D.
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           pelos  contactos  anteriores  que  já  tivera  com   Afonso V , e por consequência iniciando-se as
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           esta, que assinara, em seu nome e no da sua   tensões que viriam a opor o rei e o regente nos
           esposa ,  confirmações  de  bens  da  Casa.   anos seguintes, o infante D. Pedro não deixou
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           Tendo Álvaro Gonçalves falhado na sua missão,   de reconhecer a importância dos serviços
           coube ao infante D. Henrique convencer a   prestados por Ataíde, fazendo-lhe um conjunto
           rainha a entregar D. Afonso V .            de importantes mercês.
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           A  partir  desse  momento,  e  posteriormente,   Entre elas merece destaque o apoio à
           aquando da fuga da rainha para o Crato e da   concessão,  em  1443,  do  Priorado  do  Crato  a
           entrega  da  infanta  D.  Leonor  (v.  1434-1467)   D. Henrique de Castro , o qual era sobrinho
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           a  D.  Guiomar  de  Castro  até  à  sua  partida   de D. Guiomar de Castro, e por falecimento
           para a Alemanha , de quem seria aia até    deste, novo apoio à entrega, já com D. Afonso
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           ao casamento da infanta com o Imperador    V em finais de 1448, do Priorado a D. João de
           Frederico III (v. 1415-1493), Álvaro Gonçalves   Ataíde , secundogénito de Álvaro Gonçalves
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           passava a acumular dois dos mais importantes   e de D. Guiomar. A D. João de Ataíde, pela sua
           cargos da corte: aio do jovem monarca e    proximidade pessoal, concedera já o regente
           governador da Casa do infante D. Pedro, então   a alcaidaria-mor de Amieira , tendo em
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           regente do Reino. Isto é, Ataíde tornou-se   conta os serviços do fidalgo no cerco de Rodes
           numa figura incontornável de toda a política da   de 1444 . Ao próprio Álvaro Gonçalves, o
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           época e foi um privilegiado agente mediador   regente D. Pedro confirmou todas as anteriores
           entre o jovem monarca e o regente, o que lhe   mercês de D. João I e D. Duarte com direito
           conferiu um indiscutível poder de intervenção   de transmissão ao seu primogénito  e fez-
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           política e lhe abriu o caminho para a titulação.  lhe, em data desconhecida, uma importante
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           É neste quadro que, logo em 1439, se entende   doação: a alcaidaria-mor de Coimbra .
           que o infante D. Pedro o tenha nomeado     Esta  doação  assumia  um  significado  especial
           coudel-mor de Tavira   e  lhe  tenha  confiado   em duas vertentes. Em primeiro lugar, por
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           a guarda do jovem D. Afonso V enquanto se   revelar o grau de confiança e de cumplicidade
           iniciava a guerra contra o Prior do Hospital,   entre o infante e o seu criado, a ponto do
           que decidira apoiar as pretensões da rainha D.   infante lhe conceder o comando militar da
           Leonor. Enquanto decorria a investida, Álvaro   sede do seu ducado. Em segundo, dado
           Gonçalves de Ataíde procurou, sem sucesso,   o capital simbólico associado à posse da
           convencer  o  jovem  monarca  dos  motivos  do
           infante D. Pedro para guerrear os partidários   126  Cf. Saul António Gomes, Op. Cit., pp. 51 e seguintes.
           da sua mãe , uma vez que esta pretendia que   127  Cf. Rui de Pina, Op. Cit., vol. I, cap. LXXI.
                    125
           Portugal se envolvesse nas lutas peninsulares   128  Cf. MH, vol. VIII, doc. 8.
                                                      129  Cf. Ibidem, vol. IX, docs. 201 e 202.
           119  Cf. Rui de Pina,  Op. Cit., vol. I, cap. XLVII; Duarte   130  Cf. Humberto Baquero Moreno, Op. Cit., vol. I, p. 408.
           Nunes Leão, Cronicas e vidas dos reys de Portugal, D.   131  Cf. Cristóvão Alão Moraes, Pedatura Lusitana, vol. IV,
           Duarte, undecimo, e D. Affonso V, duodecimo, Lisboa,   Braga, Edições Carvalho de Basto, 1998, pp. 280-281.
           Officina de Joze de Aquino Bulhoes, 1780, cap. VII.  132  De Cernache e dos casais de Chança e Carvalhal (Cf.
           120  Cf. Gaspar Landim, Op. Cit., vol. I, cap. XXX, p. 30.  ANTT, CDAV, livro 20, fl. 4, s.l., 14.III.1439), dos castelos
           121  Da doação de Cernache e dos casais de Chança   e vilas de Monforte de Rio Livre e Vinhais e das terras
           e Carvalhal (Cf. ANTT,  CDAV,  livro  34,  fl.  104,  s.l.,   de Vilar Seco de Lomba e Vale de Paçó (Cf. Idem, livro
           17.XI.1438).                               9, fl. 86v, s.l., 10.VII.1439), do privilégio para seus amos
           122  Cf. Rui de Pina, Op. Cit., vol. I, cap. VII.   e caseiros (Cf. Idem, livro 12, fl. 84, s.l., 24.X.1440) e da
           123  Cf. Gaspar Landim, Op. Cit., vol. II, cap. XII; Duarte   carta de coutada à Quinta da Foz (Cf. Idem, livro 25, fl.
           Nunes Leão, Op. Cit., cap. IX; Rui de Pina, Op. Cit., vol.   3, s.l., 2.VII.1444).
           I, cap. LXVI.                              133   Apenas  se  conhece  a  confirmação  do  período  de
           124  Cf. ANTT, CDAV, livro 20, fl. 67, s.l., 16.VII.1439.  governo de D. Afonso V (Cf. ANTT, Místicos, livro 3, fl.
           125  Cf. Gaspar Landim, Op. Cit., vol. II, cap. XVIII.  117, s.l., 8.VIII.1449).

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