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Nuno Vila‐Santa FRAGMENTA HISTORICA
de Braga e no actual concelho de Chaves , um Gonçalves, a despeito da sua carreira e da
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couto de homiziados , a doação de Cernache, configuração de um importante senhorio,
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no termo de Coimbra, e dos casais de Chança ambas a apontar para a titulação, faltava
e Carvalhal, no termo de Penela , a carta de encontrar matrimónios que correspondessem
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privilégio a seus amos e caseiros , a carta de ao estatuto político adquirido.
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coutada à mata da Azenha e à Quinta da Foz , O breve reinado de D. Duarte (r. 1433-1438) não
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ambas no termo de Benavente. Nesta primeira foi, todavia, propício a uma rápida ascensão.
fase, as doações e privilégios incidiram, assim, Ataíde não participou na expedição de Tânger
na região em torno de Coimbra, sede do de 1437 , na qual os partidários do infante D.
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ducado do infante D. Pedro, nos privilégios Pedro primaram pela ausência. Nem mesmo
concedidos na região de Trás-os-Montes, e em a participação dos Castros e Coutinhos, seus
pequenas doações no Ribatejo. familiares, associados à clientela do infante D.
Se bem que, através da sua carreira de serviço, Henrique , o fez integrar o contingente. Ainda
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Álvaro Gonçalves de Ataíde tenha conseguido antes da partida da expedição, foi por Álvaro
limpar a mácula política de seu pai, e tivesse Gonçalves que D. Duarte tomou conhecimento
já alcançado um estatuto destacado na corte dos preparativos do infante D. Pedro no sentido
joanina, no final do reinado, devido à ligação da de nela participar , vindo a impor-lhe a sua
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sua linhagem com os Castros e os Meneses , não participação na jornada . Além disso, o
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ainda lhe faltava um elemento fundamental monarca opôs-se à intenção de Ataíde e de D.
para consumar a plena restauração política e Guiomar de Castro, sua futura esposa, de ver
social que, por exemplo, D. Pedro de Meneses, nomeada a irmã desta, D. Isabel de Castro,
alcançou precisamente no final do período como abadessa de Arouca . No entanto, após
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joanino . Referimo-nos ao seu enlace e ao confirmar as doações joaninas , foi D. Duarte
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das suas irmãs, uma vez que, como é sabido, quem fez a Álvaro Gonçalves a importante
o cumular das trajectórias políticas de doação dos castelos e vilas de Monforte de
ascensão só tinha expressão social através de Rio Livre e de Vinhais e das terras de Vilar
bons casamentos . Tal significa que a Álvaro Seco de Lomba e de Vale de Paçó , estas
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três últimas no actual distrito de Bragança ,
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91 Cf. Augusto Leal, Portugal Antigo e Moderno, vol. V,
Braga, Barbosa & Xavier, 2006, p. 407. a qual configurou a formação da componente
92 Cf. ANTT, CDJI, livro 4, fl. 12v., s.l., 10.X.1420. O transmontana do património da Casa.
privilégio foi concedido por D. João I, embora a doação
de Monforte de Rio Livre só se tenha efectivado já no
reinado de D. Duarte, adiante referenciado. 100 Cf. Rui de Pina, Crónica do rei D. Duarte, edição de
93 Cf. ANTT, Chancelaria de D. Afonso V [CDAV], livro 20, António Borges Coelho, Lisboa, Editorial Presença,
fl. 4, s.l., 15.VI.1425. Trata-se de uma doação retirada 1966, cap. XV.
dos bens da Casa do infante D. Pedro, desconhecendo- 101 Cf. João Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit., p. 227.
se o documento e data original da doação de Cernache 102 Cf. Carta de Álvaro Gonçalves de Ataíde a D. Gomes,
e dos casais de Chança e Carvalhal. Esta doação incluía Porto, 7.V.1435 – PUB. MH, vol. IV, doc. 22.
casas em Alvaiázere e em Albergaria-a-Velha, bem 103 Cf. Luís Miguel Duarte, D. Duarte requiem por um rei
como a concessão do padroado da Igreja de Cernache. triste, s.d., Círculo de Leitores, 2005, p. 247.
94 Cf. ANTT, CDAV, livro 25, fl. 3, s.l., 24.X.1425. Privilégio 104 Pois defendia a nomeação de D. Beatriz de Vilhena.
concedido por D. João I. Cf. Carta de D. Duarte a D. Gomes, Lisboa, 27.VII.1437 –
95 Cf. ANTT, CDAV, livro 11, fl. 100v., s.l., 20.X.1430. Não PUB. MH, vol. IV, doc. 56.
se conhece o documento original de doação. 105 De Cernache e dos casais de Chança e Carvalhal
96 Cf. ANTT, CDAV, livro 18, fl. 12, s.l., 2.VII.1431. É (Cf. ANTT, CDAV, livro 34, fl. 104v., s.l., 3.XII.1433), das
desconhecido o documento de doação original. cartas de coutada à mata da Azenha (Cf. Idem, livro 11,
97 Cf. Mafalda Soares da Cunha, “A nobreza fl. 100v., s.l., 1.III.1433) e à Quinta da Foz (Cf. Idem, livro
portuguesa…”, pp. 231 e 236. 18, fl. 12, s.l., 28.VI.1438) e dos privilégios a seus amos
98 Com a concessão, por parte de D. João I, do título de e caseiros (Cf. Idem, livro 25, fl. 3).
1º conde de Vila Real, em 1424. 106 Cf. ANTT, CDAV, livro 9, fl. 85v, s.l., 4.XII.1433.
99 Cf. Ricardo Cordoba de la Llave, Isabel Beceira 107 Cf. Abade de Baçal, Memórias arqueológico-
Pita, Parentesco, poder y mentalidad. La nobleza históricas do distrito de Bragança, tomo VII, Bragança,
castellana. Siglos XII-XV, Madrid, Consejo Superior de Câmara Municipal de Bragança/Instituto dos Museus,
Investigaciones Cientificas, 1990, p. 122 e seguintes. 2000, p. 30.
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