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Nuno Vila‐Santa FRAGMENTA HISTORICA
da Casa de Vila Real . Sempre próxima de D. quando procurava encontrar D. Henrique ,
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Filipa de Lencastre, a ponto de com ela chorar sendo bem conhecida a sua forte ligação àquele
quando se soube da intenção de D. João I de infante . Todavia, a relevância do falecimento
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ir a Ceuta , Mécia Vasques terá acompanhado do secundogénito da Casa não reunia ainda as
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os momentos finais da rainha, a qual não condições para ser politicamente capitalizada,
deixou de pedir ao infante D. Duarte (v. 1391- dado Álvaro Gonçalves não ser à data casado
1438), herdeiro da Coroa, que se lembrasse nem ter, no seu cursus honorum, serviços de
dos serviços de Mécia Vasques e dos de Beatriz relevo comparável aos que prestou, nos anos
Gonçalves de Moura. Ao pedido da rainha terá seguintes, ao infante D. Pedro e a D. João I.
o infante respondido que “lhe tinha muito em Só nesta mesma lógica se pode entender a sua
mercê de lhe leixar tal encomenda, a qual ele nomeação, em 1416, para representar Portugal
cumpriria o melhor que pudesse” . Após o no Concílio de Constança , conjuntamente com
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falecimento da rainha D. Filipa, Mécia Vasques D. Fernando de Castro , o fidalgo escolhido
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ingressou no serviço da infanta D. Isabel (v. para substituir Vasco Fernandes de Ataíde
1397-1471) . à frente da Casa do infante D. Henrique e,
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Fora provavelmente nos finais da década de também ele, descendente de uma linhagem, os
1390 que Mécia Vasques Coutinho, mercê da Castros, que carecia de se reabilitar através do
sua influência, conseguira colocar diversos serviço à Coroa. Originalmente secundogénito,
filhos no serviço da corte. Assim, é sabido que acabou por herdar a Casa de seu pai, D. Pedro
Álvaro Gonçalves de Ataíde era governador de Castro, senhor do Cadaval, por falecimento
da Casa do infante D. Pedro (v. 1392-1449) prematuro do seu irmão primogénito.
desde, pelo menos, 1402 . Existe também Considera-se que a sua nomeação para a
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referência de que Vasco Fernandes de Ataíde Casa do infante D. Henrique ficou a dever-se
era governador da Casa do infante D. Henrique à influência de Mécia Vasques Coutinho e de
(v. 1394-1460) por ocasião da conquista de Gonçalo Vasques Coutinho, sobretudo tendo
Ceuta, em 1415 . Quanto a D. Filipa de Ataíde, em conta a própria indigitação de Álvaro
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deverá ter sido colocada como dama da rainha Gonçalves de Ataíde para a Casa do infante D.
D. Filipa , provavelmente aquando do regresso Pedro . A ligação então estabelecida entre os
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da mãe. dois fidalgos, além de demonstrar como não
Foi sobretudo através do serviço dos infantes existia uma associação unívoca entre linhagens
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D. Pedro e D. Henrique que a ascensão dos e serviço dos infantes , parece ter configurado
membros da Casa foi concretizada nos anos o estabelecimento de uma relação pessoal
seguintes. Álvaro Gonçalves e Vasco Fernandes forte entre ambos e o início da estreita aliança
participaram na conquista de Ceuta . Este entre ambas as linhagens, com consequências
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último, capitão da sexta galé que partira do profícuas nos anos seguintes.
Porto , foi o único fidalgo a falecer na investida, Por ocasião da partida para Constança, o infante
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D. Pedro solicitou ao seu governador que lhe
60 Cf. Nuno Silva Campos, Op. Cit..
61 Cf. Gomes Eanes de Zurara, Crónica da tomada de em Marrocos no século XV (1415-1464), dissertação
Ceuta, introdução e notas de Reis Brasil, Mem Martins, de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da
Publicações Europa-América, 1992, cap. XXXVIII. Universidade do Porto, 1995, p. 68.
62 Cf. Ibidem, cap. XLII, p. 156. 69 Cf. Gomes Eanes Zurara, Crónica da tomada…, caps.
63 Cf. Maria Helena da Cruz Coelho, Op. Cit., p. 143. LXIII e LXXXIV.
64 Com 8300 libras de moradia. Cf. Monumenta Henricina 70 Tendo chegado a viver com o infante D. Henrique. Cf.
[MH], edição da Comissão Executiva do V Centenário da João Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit., p. 77.
morte do Infante D. Henrique, vol. I, Coimbra, 1960, 71 Cf. Carta de D. João I ao rei de Aragão, Estremoz,
doc. 122. 21.I.1416 – PUB. MH, vol. II, doc. 114 na qual o rei
65 Cf. Gomes Eanes Zurara, Crónica da tomada…, cap. L. noticiava a sua nomeação.
66 Com 1200 libras de moradia. Cf. Anselmo 72 Cf. Damião Peres, História da Igreja em Portugal, vol.
Braamcamp Freire, Op. Cit., vol. I, p. 84. I, Porto, Portucalense Editora, 1967, p. 467.
67 Cf. Gomes Eanes Zurara, Crónica da tomada…, cap. L. 73 Cf. Ibidem, p. 77.
68 Cf. Abel dos Santos Cruz, A nobreza portuguesa 74 Cf. Ibidem, pp. 77-78.
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