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FRAGMENTA HISTORICA O intermediário entre o arquiteto e a sua obra. A
atuação de D. Francisco de Lemos no seu primeiro
reitorado (1770‐1779).
Introdução Assim podemos adiantar que esta ação se
divide em três momentos: o primeiro, onde
D. Francisco de Lemos foi uma destacada a atuação do mesmo consiste na execução
figura do antigo regime português onde do estipulado pelos Estatutos de 1772; um
acabou por se evidenciar na área do ensino segundo momento é marcado pela ausência de
e da administração central e eclesiástica. Dos esclarecimentos nos ditos Estatutos, o que, por
muitos cargos por si desempenhados, mais sua vez, levou o Reitor a ter que corresponder-
de uma dezena, destacam-se o de Reitor (31 se diretamente com Pombal, ficando assim
anos divididos em dois momentos distintos) como executante das ordens do mesmo;
e de Bispo de Coimbra (43 anos). Chegou por fim, um terceiro instante onde é clara a
pela primeira vez a Reitor em 1770 e dois liberdade de ação de D. Francisco de Lemos em
anos depois passa também, em regime de várias matérias. Escusado será dizer que esta
acumulação, a Reformador . Reconduzido em última parte é a que mais importa para esta
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ambos em 1775, neles permanece até depois exposição.
da morte de D. José I, abandonando-os apenas
em 1779. Estas nomeações enquadram-se na 1. A fonte e a metodologia usada
atenção que Pombal dedica ao ensino e aqui
é necessário notar que estamos perante uma Para conseguir responder à questão acima
estratégia antecipadamente pensada . Desta levantada propus-me analisar a vasta
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forma opta por colocar D. Francisco de Lemos correspondência trocada entre o Ministro de D.
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num local decisivo logo em 1770: o método José e D. Francisco de Lemos , no seu essencial
foi sempre colocar os seus nos lugares a já publicadas por Teófilo Braga e Manuel Lopes
controlar , o que explica também a nomeação, de Almeida. E foi também possível acrescentar
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dois anos depois, para Conselheiro da Junta de a estas mais algumas de D. Francisco de
Providência Literária. Lemos, inéditas, encontradas na Torre do
Tombo. Como complemento indispensável,
Depois do breve mas indispensável utilizei outra fonte primária já bem conhecida,
esclarecimento é necessário referir que o cotejando-a com as ditas cartas: trata-se da
objetivo principal deste artigo irá consistir na Relação Geral do estado da Universidade, da
resposta à seguinte questão: qual a ação de autoria do Reitor.
D. Francisco de Lemos, o Reitor, durante o
momento que para sempre ficou conhecido Passando então à análise mais genérica da
como a Reforma Pombalina da Universidade fonte, foi possível ver que as 131 missivas
de Coimbra? Será desde logo necessário cobrem um período de cinco anos que se inicia
esclarecer que a exposição não irá recair sobre em 15 de outubro de 1772, um mês depois de
a Reforma de 1772, embora de forma indireta Pombal ter abandonado Coimbra, e termina no
seja impossível não o fazer; o que se pretende dia 10 de dezembro de 1776, pouco antes da
é procurar definir quanto da Reforma se ficou morte do monarca e da saída do valido.
a dever ao Reitor. Se atentarmos ao Gráfico 1 podemos ver que
um ano sobressai, 1773: com 69 missivas
1 Os documentos relativos a tais nomeações estão trocadas este é claramente o período de mais
disponíveis em Mário Alberto Nunes Costa, Documentos intensa correspondência. Com números bem
para a Historia da Universidade de Coimbra (1750- mais modestos, sucedem-se 1774, com 21
1772), Vol. II, Coimbra, Por Ordem da Universidade de cartas, 1772 com 19, 1775 com 13 e, por fim,
Coimbra, 1961, pp. 228, 229, 231 e 294.
2 Rómulo de Carvalho, História do ensino em Portugal. 1776 com 9.
Desde a fundação da nacionalidade até ao fim do
Regime de Salazar-Caetano, 2ª Edição, Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1986, p. 462.
3 José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal e do Império,
1495 – 1777, Coimbra, Imprensa da Universidade de 4 84 do Ministro e 47 do Reitor, o que originou um total
Coimbra, 2006, p. 527. de 131 missivas.
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