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Carlos F. T. Alves                                            FRAGMENTA HISTORICA


           significava  a  Universidade,  ou  por  outras   uma importante ferramenta a usar pelos
           palavras, de que forma a instituição era vista   estudiosos . A dimensão disciplinar foi tida em
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           pelos seus reformadores. A mesma autora    conta,  pautada  pela  exigência:  nesse  sentido
           recorre ao próprio D. Francisco de Lemos para   basta  apenas  apontar  para  as  determinações
           responder a esta interrogação. A Universidade   relativas  a  dois  momentos  fundamentais,  a
           deveria então entender-se “como hum Corpo   admissão e a avaliação de conhecimentos .
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           formado no seio do Estado, para, por meio de   O  que  ficou  visível,  de  forma  muito  breve
           Sabios, que cria, difundir a Luz da Sabedoria   foram  apenas  algumas  inovações  que  me
           por todas as partes da Monarchia; […] Quanto   pareceram importantes quanto à Reforma
           mais  se  analisa esta  ideia,  mais  relaçoens  se   de 1772, embora outras pudessem ser
           descobrem entre a Universidade e o estado;   mencionadas como:  o abandono  do  método
           mais se conhece a dependência que tem estes   especulativo, introdução de uma componente
           dois Corpos um do outro e que as Sciencias   ligada a investigação, novas faculdades, varias
           não podem florecer na Universidade, sem que   mudanças nos planos de estudos, novos
           o Estado floreça, se melhore e se aperfeiçoe.” .   edifícios,  incorporação  do  Colégio  das  Artes;
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           É esta a lógica subjacente à criação da Junta de   ou  por  outras  palavras,  uma  clara  tentativa
           Providência Literária, que gerou o Compêndio   de tentar alcançar os desenvolvimentos
           Histórico e os  Estatutos Pombalinos de    científicos  mais  avançados  da  época.  De  um
           1772. E é esta segunda obra que vai acabar   modo geral, poder-se-á afirmar como António
           por funcionar como  manual  para o Reitor:   Filipe  Pimentel  que  “a  drástica  intervenção
           corresponsável na sua elaboração, a ele cabe a   tinha por finalidade constituir, sobre a antiga
           sua efetiva realização prática.            malha corporativa de imunidades e privilégios
           Assim podemos ver que esta  refundação     imemoriais, uma instituição de ensino moderna
           trouxe uma série de inovações e modificações   e esclarecida […] A obra assim delineada tinha
           profundas, de tal forma que Rómulo de      por isso, também, um nome adequado: Nova
           Carvalho  afirmou  que  aquilo  que  então  se   Fundação.” .
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           pretendia fazer seria algo sem precedentes,
           sem   qualquer  modelo   anteriormente
           realizado . Uma das novidades mais evidentes   13  Manuel Augusto Rodrigues,  A Universidade de
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           seria mesmo o acolher de um novo método    Coimbra. Marcos da sua história, Coimbra, Arquivo da
           denominado   de   sintético-demonstrativo-  Universidade de Coimbra, 1990, p. 42.
           compendiário que colocava novas funções aos   14  Para entender de forma mais pormenorizada estas
           Lentes. Deveriam estes resumir a matéria ao   regras de admissão e de avaliação ver Fernando Taveira
                                                      da Fonseca, “A dimensão pedagógica da Reforma de
           essencial, para assim a expor, e só depois partir   1722, alguns aspectos.” in  O Marquês de Pombal e a
           para as questões de maior complexidade, tudo   Universidade,  coord.  Ana  Cristina  Araújo,  Coimbra,
           isto com o apoio imprescindível dos novos   Imprensa da Universidade de Coimbra, 2000, pp.
           compêndios .  E a eles exigia-se  que fossem   46, 47, 48, 53 e 54. Quanto ao plano de estudos dos
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                                                      vários cursos e as respetivas alterações de forma mais
           também mestres e inventores .              detalhada, poderá ver-se também: Manuel Augusto
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           O conhecimento deveria estar marcado por   Rodrigues,  A Universidade de Coimbra…,  pp. 42 e
                                                      45, Manuel Augusto Rodrigues, “Alguns aspectos
           um  cunho  racional  e  científico,  o  estudo   da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra
           da evolução histórica deveria ser também   –  1772”  in  Pombal Revisitado, Comunicações ao
                                                      Colóquio Internacional organizado pela Comissão das
           9  Ana Cristina Araújo, “Dirigismo cultural …”, pp. 37 e 38.  Comemorações do 2º Centenário da Morte do Marquês
           10  Rómulo de Carvalho, História do ensino em Portugal   de Pombal,  Vol.  1,  nº  34,  Lisboa,  Editorial  Estampa,
           …, pp. 465 e 466.                          1984, p. 219 e, também, Rómulo de Carvalho, História
           11  Mário Júlio de Almeida Costa, Rui de Figueiredo   do ensino em Portugal …, pp. 470 a 479.
           Marcos, “Reforma Pombalina dos Estudos Jurídicos”,   15  António Filipe Pimentel, “Cidade do saber/cidade
           in O Marquês de Pombal e a Universidade, coord. Ana   do poder. A arquitetura da Reforma.” in O Marquês de
           Cristina Araújo, Coimbra, Imprensa da Universidade de   Pombal e a Universidade,  coord.  Ana  Cristina  Araújo,
           Coimbra, 2000, p. 111.                     Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2000,
           12  Ana Cristina Araújo, “Dirigismo cultural …”, p. 37.  p. 265.

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