Page 144 - 4
P. 144
FRAGMENTA HISTORICA O intermediário entre o arquiteto e a sua obra. A
atuação de D. Francisco de Lemos no seu primeiro
reitorado (1770‐1779).
Se atentarmos ao Gráfico 2 podemos ver que o esboçar um quadro breve donde constem as
assunto mais discutido entre ambos foi mesmo linhas gerais da Reforma de 1772.
as Obras que a nova Reforma exigiu (com 47
referências) e, por isso mesmo, decidi criar
um único grupo para esse assunto (Os novos 2. Linhas gerais da Reforma de 1772
estabelecimentos universitários). Neste, não A reforma surgida pelas mãos de Pombal e
sobressai apenas o diálogo sobre a construção dos seus, foi acima de tudo uma necessidade
dos novos estabelecimentos, mas também caracterizada por um objetivo final bem maior
sobre as várias aquisições de terrenos, do que a própria instituição reformada. Ana
instrumentos e contratação da mão-de-obra. Cristina Araújo define esse mesmo propósito
De seguida, e já num segundo grupo (A da seguinte maneira, “É sob o signo da reforma
questão do ensino) a divisão é bem maior. intelectual e moral da sociedade, eixo de bem
Neste conjunto é possível ver uma considerável estar, progresso e felicidade, que o Marquês
preocupação quanto às Aulas (com 37 de Pombal, à semelhança de outros déspotas
referências), Lentes (36) e Compêndios (34). esclarecidos europeus, intenta secularizar as
Os restantes assuntos que completam este instituições de ensino, submetendo-as à tutela
grupo têm uma representação bem menor, do Estado. […] A educação encarada como
destacando-se em primeiro lugar a Disciplina um dever público, destinava-se a instaurar
e os Estudos Menores (8 e 7 referências a crença numa ordem universal de valores
respetivamente) e o Desenvolvimento Científico que compatibilizasse o progresso do género
(2). Quanto à primeira, foi evidente a ação de humano, no respeito pela matriz cristã, com
D. Francisco de Lemos que intervinha em todas a finalidade técnica decorrente da utilidade
6
as questões de indisciplina relativas aos Lentes, social da ciência.” . Esta necessidade cuja
estudantes e funcionários da Universidade. resposta foi a reforma de 1772, inspirou um
E quanto aos estudos menores, é necessário clima de mudança que se deteta já a partir
7
esclarecer que as respetivas referências têm década de 40 . Na década seguinte, no início
que ser entendidas num contexto não nacional do seu governo, contudo, a preocupação de
mas local, respeitante ao Colégio das Artes em Pombal não recaiu nos estudos superiores
Coimbra. mas sim no ensino primário e secundário,
ou seja os estudos menores. O cuidado com
Já os restantes assuntos foram incorporados a Universidade de Coimbra começa a ser
num terceiro grupo (A importância da evidente na década de setenta, embora o
administração). Neste destacam-se claramente esboço de um plano de reforma já há muito
a Administração (com 13 referências), estivesse a ser delineado .
8
Cerimonial (10), Funcionários (9) e Confiscos
(1). Se o primeiro tema é óbvio, no que respeita Desta forma importa então perguntar o que
ao segundo, o maior problema foi mesmo a 6 Ana Cristina Araújo, “Dirigismo cultural e formação
ausência de esclarecimentos nos Estatutos, das elites no Pombalismo” in O Marquês de Pombal e
o que suscitou várias dúvidas por parte do a Universidade, coord. Ana Cristina Araújo, Coimbra,
Reitor. Relativamente aos Funcionários, trata- Imprensa da Universidade de Coimbra, 2000, pp. 9 e 10.
7
Luís Mota, “A Reforma da Universidade enquanto
se de contratações para a parte administrativa projeto pedagógico (e social) de formação de elites”,
da Universidade. in Revista de História das Ideias, Vol. 22, Coimbra,
Faculdade de Letras, 2001, p. 504.
Se a fonte analisada é capaz de nos fornecer 8 Rómulo de Carvalho, História do ensino em Portugal …,
informações importantes tem, contudo, pp. 461 e 462. E não nos podemos esquecer que João
carências que se devem, segundo creio, a Pereira Ramos já estaria até a preparar os Estatutos
correspondência ainda por encontrar. O que em segredo - ver Francisco António Lourenço Vaz, D.
Manuel do Cenáculo. Instruções pastorais, projetos de
possuímos permite, mesmo assim, traçar um bibliotecas e diário, Porto, Porto Editora, 2009, pp. 109-
quadro coerente. Antes, porém, de passar a 137; João Palma-Ferreira, “Excertos do «diário» de D. Fr.
uma análise mais pormenorizada, importa Manuel do Cenáculo Vilas Boas”, in Revista da Biblioteca
Nacional, nº 1, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1982.
144