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Carlos F. T. Alves FRAGMENTA HISTORICA
incomodar nenhuma das partes . Nas suas também procurar preencher algumas lacunas
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palavras fica visível que a situação não se iria de determinados compêndios a usar nas aulas.
alterar e que a sua preocupação seria mesmo Muitas das obras utilizadas foram estipuladas
o controlo ideológico, “O Tribunal da Meza pela Junta de Providência Literária, mas não
Censoria he mais antigo do que os Estatutos. foi possível tratar de tudo e foi esta falha
[…] E a Universidade, e as suas Congregaçoens; que os reformadores tiveram de suprir .
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posto que sejam de tanta autoridade; nem Assim, o método de escolha foi o seguinte: o
são Tribunaes Regios, como os dous asima Reitor reunia a respetiva Congregação e, em
referidos; nem estamparam nunca as suas conjunto, seria escolhido o autor e a obra
mesmas Concluzoens, sem pedirem Licenças. e logo depois cabia ao prelado indicá-lo ao
[…] seria isto o mesmo que abrir huma valido para a respetiva aprovação, embora
Palestra para Gladiadores futuros. […] E daqui fosse também necessário passar pelo crivo da
viria a resultar huma guerra de penna entre Real Mesa Censória. Isso mesmo aconteceu
Censores Regios, e Academicos, que nunca se com os livros de Logica e Metafisica de António
acabasse” . Genovese em 1773 . E, no mesmo ano, foram
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Outro dos problemas patentes na também indicadas as obras de M. Bézout
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correspondência foi mesmo o atraso dos livros para Matemática . Outro caso idêntico data
para as aulas. Como a tipografia universitária já de 1775 e diz respeito à obra de Heinécio,
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ainda estaria em construção, coube à Elementos de Filosofia Racional e Moral
tipografia régia tratar das impressões que 233
Segundo Ana Cristina Araújo, parte considerável
posteriormente seriam enviadas, por mar (pelo desses manuais já estariam na livraria pública do
porto da Figueira) ou por terra (através de Paço das Escolas – ver Ana Cristina Araújo, “Dirigismo
carroças), para a Universidade. Tudo isto vem cultural …”, pp. 32. A ação de D. Francisco de Lemos
gerar o inconveniente dos atrasos na entrega quanto à questão dos Compêndios começa nesta fase:
dos livros para as aulas, o que ficou visível antes da Reforma a ele coube escolher os compêndios
para Teologia - ver Genoveva Marques Proença, D.
na correspondência do Reitor, que por várias Francisco de Lemos…, p. 16. Para o mesmo curso é
vezes solicitou que o envio se apressasse. possível ver as obras por si escolhidas em D. Francisco
Esta situação chegou mesmo a gerar alguns de Lemos, Relação Geral..., pp. 22 a 24. Já quanto aos
extremos como foi o caso do adiamento da restantes cursos, o Reitor fornece a mesma informação
- D. Francisco de Lemos, Relação Geral..., pp. 56 a 58, 69
abertura de algumas Faculdades em 1772 . e 70, 82 e 83 e 103.
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Nesta fase em que a dependência de Lisboa 234 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra
era uma evidência clara, a ação do Reitor não …, pp. 473 e 474. O mesmo já foi evidenciado por
envolveu apenas o Marquês mas, também, Genoveva Marques Proença, D. Francisco de Lemos…,
p. 25. A resposta do Ministro é bem clara quanto ao
Nicolao Pagliarini . Pombal refere que o Reitor processo então utilizado - Manuel Lopes d´ Almeida,
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deveria dirigir-se a este, um dos Diretores da Documentos da Reforma …, p. 75. Já após a aprovação,
Imprensa Régia, para assim participar quais as o Reitor foi rápido em ordenar a impressão devido à
necessidades mais urgentes mas, apesar disso, necessidade que das obras se fazia sentir. Ver Carta de
1 de março de 1773, ANTT, Ministério do Reino, Maço
Pombal nunca se afastou desta tarefa. 609, Caixa 711. Quanto aos autores dos compêndios
Mas não foram apenas as impressões que ver José Antunes, “Notas sobre o sentido ideológico da
Reforma…”, p. 188.
requereram a atenção de ambos, era necessário 235 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra
…, pp. 515. Em 21 de outubro do mesmo ano, as obras
229 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra recomendadas acabaram por ser aceites - Manuel
…, p. 451. Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma …, pp. 113
230 Manuel Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma e 114. Uma das primeiras atividades de José Monteiro
…, p. 58. A resposta, esclarecedora, acabou por ter o da Rocha, Lente de Matemática, foi mesmo a tradução
efeito pretendido, pois o prelado não voltou a referir o de algumas obras e nestas se incluem as de Bézout - ver
assunto apesar de esta situação não ser a ideal para ele. Décio Ruivo Martins, “A Faculdade de Filosofia Natural
231 Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra da Universidade de Coimbra…”, p. 6.
…, p. 546. 236 Foi aprovado em fevereiro do mesmo ano, Manuel
232 Manuel Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma …, pp. 165
…, p. 60. e 167.
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