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FRAGMENTA HISTORICA                       O intermediário entre o arquiteto e a sua obra. A
                                                    atuação de D. Francisco de Lemos no seu primeiro
                                                                         reitorado (1770‐1779).
           e, também, às obras do Abade Bossuet .     pelo próprio Pombal. E, mais uma vez, quem
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           Mas as escolhas que tiveram a mão do Reitor   tratou de aplicar essa censura foi o prelado.
           não foram apenas as expostas . O prelado   Mas a sua ação foi ainda mais complexa: a este
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           fazia questão de incutir nos alunos um certo   cabia também assegurar que as Congregações
           sentimento  anti-jesuítico  e,  nesse  sentido,   em nada se afastassem das novas correções. O
           sugere ao valido que aprove a impressão de   primeiro exemplo disso mesmo data de 1773
           dois discursos onde se evidenciam os estragos   e diz respeito à obra de Genovese à qual o
           perpetrados pela ordem .                   Marquês aplica uma profunda revisão   241 . O
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           Os livros usados  durante  este  período não   mesmo se passou com Heinécio e a sua obra
                                                                                242
           foram apenas impressos em Lisboa: a nova   os  Elementos, já atrás referida . O grande
           Imprensa da Universidade também conseguiu   problema em ambas era mesmo a referência
           aprontar alguns manuais, embora em menor   a Aristóteles e à sua obra, perigo a que logo o
                                                                 243
           número. Ainda antes do término das obras e,   Reitor acudiu .
           muito provavelmente, devido à necessidade de   Mas é necessário também destacar outra
           imprimir mais livros, o Reitor opta por ordenar   das  ações  do  Reitor,  que  consistia  naquilo
           que se iniciem as impressões ainda em 1773 .  que podemos chamar de monopólio das
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           Para  além  do  que  ficou  exposto,  a  fonte   impressões  e  vendas.  Quanto  às  vendas,  o
           analisada foi capaz de nos oferecer mais   prelado,  em  1  de  março  de  1773,  pede  ao
           informações  e  uma  delas  foi  a  aplicação  da   Marquês que intervenha proibindo os livreiros
           censura nas obras escolhidas. O que podemos   de mandar vir de fora os compêndios usados
           concluir é que os manuais não só foram revistos   na instituição, tornando assim necessário aos
                                                                                         244
           pela Real Mesa Censória mas também o foram   alunos adquirir os manuais na Universidade .
                                                      A outra preocupação estaria relacionada com o
                                                      monopólio das impressões de algumas obras.
           237  Manuel Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma
           …, p. 166.                                 Nesse sentido, pede a Pombal que cedesse o
           238  Para além dos referidos e, apesar da fonte não nos dar   privilégio  das  impressões  da  obra  Elementos
           essa informação, sabemos que já em 1776 o Reitor opta   (de Euclides) e, também, das  Ordenações do
           por propor um compêndio para as faculdades jurídicas.   Reino,  estando  estas  últimas  nas  mãos  do
           Este seria de Selvaggio, Institutiones Canonicae, e viria   Mosteiro de S. Vicente  e as primeiras no
                                                                          245
           substituir as Instituitiones Ecclesiasticae de Fleury - ver
           Paulo Merêa, Estudos de história do ensino jurídico em
           Portugal …, pp. 22 e 23.                   241  Manuel Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma
           239  Carta de 1 de março de 1773, ANTT, Ministério do   …, p. 76. O Reitor responde a 1 de março do mesmo
           Reino, Maço 609, Caixa 711.                ano, referindo que depressa se cumpriram as alterações
           240  Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra   - ANTT, Ministério do Reino, Maço 609, Caixa 711. As
           …, p. 484. José Antunes aponta 1774 como o ano das   mesmas alterações foram já evidenciadas por Genoveva
           primeiras  impressões  na  tipografia  académica,  mas   Marques Proença,  D. Francisco de Lemos…, pp. 25 e
           se analisarmos a missiva a que atrás se fez referência   também  por  Teófilo  Braga,  Dom Francisco de Lemos
           podemos ver que estas poderão ter começado ainda   e a Reforma da Universidade de Coimbra. Lisboa:
           antes dessa data - José Antunes, “Notas sobre o sentido   Typographia da Academia Real das Sciencias, 1894. p.
           ideológico da Reforma…”, pp. 152. Em junho de 1773   XXXVIII.
           o Reitor refere que estaria prestes a colocar os prelos   242  Manuel Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma
           para se começarem as impressões e se esta ação logo   …, pp. 167 e 168.
           se deu então estas poderiam ter começado antes de   243  Esta reação a obra de Aristóteles deve-se,
           1774. Quanto às primeiras obras impressas parece   principalmente,  a  sua  natureza  especulativa  e
           não haver dúvidas que foram as de Bézout, Genovese   pela  vontade  de  a  substituir  pelos  novos  métodos
           e  Van  Espen  -  José  Antunes,  “Notas  sobre  o  sentido   experimentalistas.
           ideológico da Reforma…”, p. 152; e também, Manuel   244  Carta de 1 de março de 1773, ANTT, Ministério do
           Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma …, pp. 148   Reino, Maço 609, Caixa 711. Não foi possível encontrar
           e 149. Quanto a Van Espen é necessário referir que a   a  resposta  ao  pedido  mas  se  tivermos  em  conta  que
           adoção do seu Comentário apenas se deu por não ter   Pombal pretendia fazer dos ganhos da imprensa um
           sido possível encontrar nenhum melhor e de tal forma   rendimento para a Universidade, então a pretensão do
           não agradava que acabou por ser abandonado - Paulo   Reitor poderia ter sido aceite.
           Merêa,  Estudos de história do ensino jurídico em   245   A  mesma  ideia  foi  já  referida  por  Teófilo  Braga,
           Portugal…, p. 23.                          Historia da Universidade de Coimbra …, pp. 520 e 521


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