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CHIMENA E WESLEY:

             VIDAS TRANSFORMADAS



                                                                              Não sei se foi preconceito, mas
                                                                              me senti excluído. Ela, por outro
                                                                              lado, contou que estava nervosa
                                                                              e descrente, mas foi contratada”.

                                                                              Isso não o abalou. Hoje, o
                                                                              determinado jovem do Capão
                                                                              Redondo, bairro da periferia
                                                                              paulistana, está mais perto de
                                                                              seus sonhos. Quando acabou seu
                                                                              contrato como aprendiz, de tão
                                                                              promissor que é, foi contratado para
                                                                              atuar como assistente administrativo
                                                                              no Jurídico do GRUPO. Além disso,
                                                                              está fazendo pré-vestibular para
                                                                              ingressar no curso de Direito da USP.

                                                                              Com a maturidade de quem aos 8
                                                                              anos já cuidava da casa e da mãe
                                                                              doente, Wesley valoriza a postura
            Chimena Issac Francisco tem 20   refugiados. Alguns falavam vários   da companhia de abrir as portas
            anos. Nascida em Angola, chegou   idiomas. Eu só tinha um curso de   para a diversidade com um olhar
            aqui em 2015. Veio com a mãe,    operadora de caixa. Tinha certeza   para o ser humano: “A pessoa é
            Beatriz, e o irmão, Tonilson, de   que não seria escolhida”, confessa.   contratada pelo que ela é, por sua
            15 anos, que necessita de um     Três semanas depois, o telefone   capacidade”. E a Chimena confirma:
            tratamento médico que não existe   tocou: ela foi selecionada. Os   “Aqui, posso ser quem eu sou. Não
            em seu país. Quando a mãe        motivos? Sinceridade de dizer que   preciso mexer no cabelo ou me
            precisou voltar, Chimena se viu   não sabia muita coisa e enorme   vestir igual aos outros”.
            sozinha com o caçula, tendo que   vontade de aprender.
            sobreviver na maior cidade da                                     Cada vez mais brasileira, a angolana
            América Latina. “Muitas vezes,   O Wesley Rodrigues de Salles, 19   que, quando chega em casa passa
            eu pegava ônibus sem crédito no   anos, chegou à companhia em     horas no Google para aprender
            bilhete, rezando para o motorista   2016, como aprendiz na área de   mais sobre RH (área em que
            nos levar até o hospital”, lembra.  Diversidade. “Desde o início, me   atua), agora corre para acelerar a
                                             senti acolhido”, revela. Meses   aprovação do pedido de refúgio,
            Sem experiência, ela se virava   antes, havia experimentado o     que permitirá obter o Registro
            como podia. Enquanto entregava   oposto, em outra empresa: “A     Nacional de Estrangeiros para ela,
            currículos, levantava dinheiro   vaga estava entre mim e uma      Tonilson e a irmã, Sandra, que
            fazendo tranças de cabelo. Quase   colega. Na entrevista, senti que   veio depois para o Brasil e deu a
            trabalhou num restaurante; não deu   não houve interação entre mim e   luz à Daiane. “Como ela nasceu
            certo. Com auxílio de uma ONG, em   o recrutador. Independentemente   aqui, conseguiremos o registro
            2017, participou de um processo   do que eu dissesse, não seria   e meu irmão poderá continuar
            seletivo no GRUPO. “Havia outros   selecionado. Havia um bloqueio.   o tratamento”, festeja.






     24     REVISTA GENTE DE VALOR EM FOCO
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