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30 Março, 2018
      22                 Opinião                                                                     Gazeta das Caldas



          UM LIVRO POR SEMANA / 564/ JOSÉ DO CARMO FRANCISCO       RAINHA EM CALDA             OLHAR E VER
          «O futuro é para sempre» de Paula Godinho                Currículo XPTO              Água é vida!
                         O objectivo do livro é, segun-  caradamente o Tabaco» lê-se no   Por defeito nascemos equipados com uma pré confi -
                         do a autora «rejeitar os fi ns   relatório de um inspector portu-  guração egoísta, mas que nos é essencial à sobrevi-
                         anunciados» e estudar três ca-  guês pouco tempo antes de em   vência nos primeiros meses de vida.
                         sos concretos – os homens e as   1864 as três aldeias serem inte-  No período narcisista da adolescência infl acionamos
                         mulheres no Couço (Coruche)   gradas no Estado Espanhol. O   as nossas virtudes, deslumbrados que estamos com   Andamos muito distraídos...
                         no tempo da Reforma Agrária,   terceiro capítulo tem o título de   a suposta superioridade do ego.  Há uma avalanche diária tão grande de assuntos e “as-
                         as trabalhadoras têxteis no   «Ecos teimosos» e estuda o pro-  Com o tempo, ou aprendemos a apaziguar o excesso   suntozinhos” que se repetem à exaustão e muitas ve-
                         Sul da Galiza na actualidade e   cesso das UCPs do Couço : «Com a   de amor-próprio adotando impulsos que nos reforçam   zes de utilidade duvidosa (a não ser para quem os pôs
                          os habitantes do Couto Misto   Reforma Agrária isto estava tudo   a integridade, evoluindo para seres eticamente fi áveis   a circular), que esquecemos o essencial para o nosso
                          (perto de Montalegre) no sé-  cheio de arroz, de tabaco, de gen-  ou, transformamo-nos em versões cínicas e cinzentas   presente e futuro como seres humanos: saber lidar com
                          culo XIX. Todos eles se inte-  te a trabalhar.» Esta alegria per-  de nós mesmos.  a natureza, tirando partido do que ela nos oferece mas
                          gram no intervalo entre ex-  deu-se com a derrota da Reforma   Como a ausência de investimento nos outros correspon-  não a agredindo nem estragando.
                          periência e expectativa. O   Agrária: «A Reforma Agrária não   de à lógica contemporânea dominante, cuja doutrina   A verdade é que “a Natureza não precisa de nós, nós
                          primeiro é «Lides de Rotina»   fracassou: era uma parte da revo-  económica com base no capitalismo impele à satisfa-  é que precisamos da Natureza”.
                          sobre as costureiras de Verim,   lução e foi derrotada com ela.»    ção ambiciosa dos desejos, faz com que o investimento   Assim sendo, e porque estas crónicas são essencial-
     Com o subtítulo de «Experiência,   é um tempo hoje triste ontem fe-  Entre a História e a Antropologia   de uns seja exclusivamente na defi nição de estratégias   mente de e para a Região Oeste, pus-me ao caminho
     expectativa e práticas possí-  liz. Ontem «Aqui havia mulheres   são periféricos os temas e as rea-  individualistas para o alcance do sucesso profi ssional.   e fui ver como estão, depois de cerca de um mês da
     veis», este livro de Paula Godinho   que não trabalhavam, que an-  lidades; o Couto Misto fi ca na pe-  Consequentemente, é o baixo nível de respeito próprio   tão desejada e necessária chuva, duas barragens da
     (n.1960) tem 354 páginas escolhe   davam pelas cafetarias porque o   riferia das Cortes de Lisboa e   que inspira o currículo XPTO, mas que não VITAL, num   região: Arnoia e Alvorninha.
     como título uma frase escrita em   marido ganhava um bom salário»   Madrid, o Couço fi ca na periferia   capricho restrito às pomposas hostes carreiristas-par-  Ambas inauguradas em 2005 para fi ns agrícolas.
     2014 nas paredes da Universidade   mas hoje «Como faz falta o di-  do distrito de Santarém, as costu-  tidárias do poder instituído. Nesse jogo de aparências   Aliás visito-as regularmente desde o inicio: mais água,
     Nova de Lisboa mas também uma   nheiro em casa, muitíssima gen-  reiras de Verim fi cam na periferia   ofuscantes, qualquer “nico de gente” apenas precisa   menos água, mas a mesma desertifi cação de atividade
     ideia de Federico García Lorca: «…  te vive das pensões dos velhos.»O   das casas que fabricam os produ-  se tornar versado no insufi ciente, na mediocridade, no   e consequente atividade/produtividade.
     os homens não trabalham para si   Couto Misto é o segundo capítu-  tos para venda nas lojas dos gran-  desprovido de conteúdo e no mau gosto. É-se autor   Ambas são ainda e só reservatórios de água doce, sen-
     mas para todos os que vêm atrás   lo do livro e apresenta o títu-  des centros comerciais. Uma nota   elástico o bastante para que, sem pudor, recorrer ao   do que em Óbidos, não longe da barragem há recente-
     e este é o sentido moral de todas   lo de «Na penumbra do Poder»   algo insólita: aqui se juntam tex-  abuso dos sinónimos mais improváveis e que qualquer   mente troços de condutas adutoras e retroescavadoras
     as revoluções e, em última ins-  estudando a memória do Couto   tos traduzidos de Italo Calvino,   processador de texto disponibiliza. Obtém-se um có-  aparcadas, aparentemente anunciando a continuação
     tância, o verdadeiro sentido da   Misto (Ruviás, Santiago e Meaus)   Leão Tolstoi, Manuel Vásquez   digo de “palavras caras” como recurso para ocultar a   do investimento público e fi nanciado com fundos eu-
     vida.» Mas Camilo Castelo Branco   além das chamadas aldeias pro-  Montalbán ou Karl Marx com ou-  superfi cialidade e simular o conhecimento pretensio-  ropeus, 13 anos depois. Assim seja!
     tinha advertido: «A Poesia não   míscuas: Padornelos, Sendim,   tros não traduzidos de Eduardo   so e hermético. Depois, um júri parcial para quem o   Poderá então atingir o seu anunciado objetivo: irriga-
     tem presente; ou é esperança ou   Donões, Sabuzedo, Soutelinho,   Galeano,  Marco  Benedetti,  requisito é ser-se do partido premiará generosamen-  ção de explorações agrícolas.
     saudade». Outro sentido tem a   Cambedo e Lama de Arcos. Sobre   Eugène Pottier e Almudena   te esta apologia do eu. Bastando para tal redigir um   Em 2009 era referida pelos responsáveis a área de
     frase de Kierkegaard que cito de   os habitantes daquela região caí-  Grandes.   relatório autobiográfi co em formato gif, animado por   1300 ha a irrigar.
     memória: «Se as gerações não   ram os epítetos de facínoras, la-  (Editora: Letra Livre/Através   num infi ndável loop em que a conclusão se funde com   Quantos serão agora?
     se sucedessem a nossa vida se-  drões, contrabandistas, malfeito-  Editora, Capa: Pedro Serpa,   o início, com o meio, sem fi m. E pronto. Alcança-se es-  Enquanto pouco ou nada acontece de atividade econó-
     ria apenas vazio e desespero». Já   res, criminoso e homicidas mas   Revisão:  Andreia  Baleiras,  tatuto através da distinção académica, num artifício   mica e os anos vão passando, por que não desenvolver
     para Ruy Belo «Só o presente se   o problema era o tabaco: «Neste   Paginação: Ricardo Cabanelas)    comportamental que não é percecionado como fútil   atividades desportivo-turísticas, como Canoagem ou
     vive.» Fiquemos por aqui.  território he que se cultiva des-  e ridículo pelo próprio, mas como exagero de osten-  outras com pequenas embarcações, Padlle, ou Pesca
                                                             tação, por todos os restantes.  Desportiva organizada?
                                                             É como o efeito da dicção à “benzoca” e como, o ape-  Neste Olhar e Ver aqui fi ca a sugestão.
           CATÓLICOS DO OESTE                                nas oferecer para beijar um lado da face para contrariar   Teria colateralmente a vantagem imediata de obrigar
           Um amor que não passa!                            o que é a prática comum. Códigos de afi rmação social   ao melhoramento dos acessos e dar vida a ambas as
                                                             que só funcionam entre os seus praticantes elitistas   barragens.
                                                             porque, para todos os restantes, são cómicos de tão   Entretanto, soube que há um interessante projeto pri-
     Eis o grande dom da Páscoa. Para                        absurdos. Tudo hashtags #psd#cds!   vado, apresentado há um mês, de aproveitamento das
     nos dar Vida, Deus fez-se um de nós,                    É destes quadrantes políticos que o despudorado au-  águas do rio Tejo com objetivos agrícolas e turísticos
     sofreu e morreu, abrindo para todos,                    toelogio impera, o que por aqui também contamina   que considera a integração das barragens de Alvorninha
     com a Sua Ressurreição, um hori-                        determinados cronistas provenientes dessas mesmas   e Óbidos para aumentar o regadio na Região Oeste
     zonte de Esperança infi nita: o Céu!                     formatações. Os indivíduos vaidosos que perderam o   Vale a pena estudá-lo, e desenvolvê-lo a pensar
     No Céu, tudo é paz e alegria. Mas,                      sentido de modéstia e humildade e que através das   globalmente.
     infelizmente, não é assim sobre a                       narrativas valorizam o seu próprio desempenho, fazen-  Mas há uma questão de fundo que urge resolver!
     terra! No nosso mundo, a alegria                        do alarde de suas façanhas pessoais. O que em nada   Atenção Sr. Ministro do Ambiente e responsáveis
     pascal contrasta ainda com os la-                       abona a favor da classe política que, por este tipo de   Governamentais e Autárquicos.
     mentos e gritos que provêm de                           abusos, é cada vez mais penalizada pela abstenção,   Atenção cidadãos responsáveis e atentos em geral:
     tantas situações dolorosas: misé-  ra temos a esperança de estar com   não passará.  ao se tomar a parte pelo todo.   há que impor fi rmemente com recurso às instâncias
     ria, fome, doenças, guerras, violên-  Ele, um dia, na glória do Céu para   É a verdadeira alegria espiritual,   Face à desonestidade intelectual dos Infelicianos   Europeias se necessário o fi m das transvases do Tejo
     cias. E todavia foi por isto mesmo   uma Vida Eterna!   como nos ensina Nossa Senhora,   Impedimentos Duarte desta vida, não será melhor   em Espanha e outros abusos continuados e incumpri-
     que Cristo morreu e ressuscitou!   Assim nos convida a meditar o Papa   Mãe da Esperança. Ela sabia que   recorrer à via das manifestações, do fazer comícios   mento de Convénios de água celebrados entre os dois
     De facto, Jesus sofreu ao ver-nos   Francisco: «Pensemos um pouco,   Aquele que ela amava não estava   e recitar slogans revolucionários que não alimentam   países com pompa e circunstancia.
     perdidos e abandonados no peca-  cada um de nós, nos problemas   ausente e que a pedra do sepulcro   a falsa superioridade sobre o próximo, de cujas vozes   Basta de hipócrita “no pasa nada”.
     do. E como sofreu, tal nos revela o   diários, nas doenças que vivemos   não havia sido o ponto fi nal. Jesus   não se conhece aberrações similares, capazes de ins-  É grave e lesivo para Portugal e à revelia de todo o di-
     Santo Sudário de Turim… Em Sua   ou que alguns dos nossos familia-  morreu na sua natureza humana, é   tituir um regime de esforço e trabalho diligente para   reito aplicável o que se passa na realidade há muitos
     compaixão infi nita, desceu aos in-  res têm, nas guerras, nas tragédias   verdade, mas continuava vivo como   que a obtenção da recompensa advenha da prepara-  anos e à vista de todos!
     fernos da nossa miséria para, como   humanas, e simplesmente, com voz   Deus. A grande alegria de ver que   ção, da aptidão e do talento?  E das fantásticas prendas que a natureza nos oferece,
     Bom Pastor, nos arrancar e libertar   humilde, sem fl ores, a sós, diante   no meio da maior tragédia, embora   Felizmente as democracias modernas tem mecanismos   não é só a agua que é mal tratada.
     das nossas prisões. E, ressuscita-  de Deus: Não sei como é que isto   tudo diga o contrário – esperando   de autorregulação que permitem a qualquer um escru-  Das fl orestas nem se fala (ou fala-se sistematicamente
     do, entrar na nossa morada falan-  vai acabar, mas tenho a certeza de   contra toda a Esperança - perma-  tinar, mais tarde ou mais cedo, a verdade. No entanto,   demais e faz-se sistematicamente de menos...) e ulti-
     do-nos ao coração: «A paz esteja   que Cristo ressuscitou».  nece a certeza de ser amado.  a nossa democracia está a precisar de abrir concurso   mamente também várias espécies arbóreas são um alvo
     convosco!», «Não tenhais medo,   Esta é a certeza que nos permi-  Que os próximos cinquenta dias do   para a integração da auditora meritocracia que, até   a abater, nomeadamente através de podas selvagens.
     Sou Eu»!           te recomeçar de novo cada dia e   Tempo Pascal que começa sejam,   agora, só tem tido trabalho precário.    Estes belos e velhos plátanos da Foz do Arelho apare-
     Eis a vitória da Páscoa, a paz que   acreditar que há esperança para   para cada um de nós, dias de gran-  ceram assim há vários meses (a foto acima é de 26/3)
     podemos encontrar no coração de   os homens, para cada um de nós!   de alegria espiritual, na certeza de   Maria João Melo     Alguém me informe se possível, se ainda irão rebentar,
     Cristo. «Se morremos com Cristo,   Esta é a alegria pascal: encontrar   que se é amado por um amor que   rainhaemcalda@gmail.com  resistindo heroicamente às agressões!?
     acreditamos que também com ele   a nova vida que está em cada um.   não passa.       Muito obrigada.
     viveremos», como diz S. Paulo aos   Basta viver na amizade com Deus
     Romanos: se com Ele descemos aos   para experimentar a alegria de se   Pe. Diogo Correia             Ana Maria Pacheco
     “vales da sombra da morte”, ago-  saber amado e amar Aquele que   Pároco de Peniche                   ana.maria@airo.pt
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