Page 240 - Fortaleza Digital
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poderia deixar alguém paralítico, e os sonhos de Strathmore para sua
      aposentadoria não incluíam uma cadeira de rodas.
      Sem enxergar nada devido à escuridão no domo, Susan descia as escadas com a
      mão no ombro de Strathmore. Mesmo a meio metro de distância, ela não
      conseguia ver a silhueta do comandante. Ao pisar em cada degrau de metal,
      movimentava levemente o pé procurando a extremidade.
      Já estava arrependida de ter aceitado voltar ao Nodo 3 para obter a senha de
      Hale. O comandante insistia que Hale não teria coragem de atacá-los, mas ela
      não tinha tanta certeza. Ele estava desesperado e tinha apenas duas opções:
      escapar da Criptografia ou ir para a prisão. Uma voz interior não parava de dizer
      que deveriam esperar pelo chamado de David e usar a senha dele, mas não
      havia garantias de que ele seria capaz de encontrá-la. Tentou imaginar a razão
      pela qual David estava demorando tanto. Controlando sua tensão, Susan seguiu
      em frente.
      Strathmore descia silenciosamente. Não queria alertar Hale. Perto do final da
      escada, Strathmore reduziu o passo, tateando com o pé para 273
      encontrar o último degrau. O salto de seu sapato bateu na superfície rígida do
      assoalho de cerâmica. Susan sentiu-o contrair o ombro. Haviam chegado na zona
      perigosa. Hale poderia estar em qualquer lugar.
      Do outro lado, agora escondido por trás do TRANSLTR, estava o ponto de
      destino, o Nodo 3. Susan rezou para que Hale ainda estivesse lá, deitado no chão,
      gemendo de dor como o cão desprezível que era. Strathmore soltou o corrimão e
      passou a arma de volta para a mão direita. Moveu-se na escuridão no mais
      absoluto silêncio. Susan segurou firme em seu ombro. Se ela se perdesse, a única
      forma de encontrá-Io seria chamando-o, e Hale poderia ouvi-Ios. À medida que
      se moviam para longe da segurança das escadas, Susan lembrou-se das
      brincadeiras de pique-esconde, tarde da noite, quando era criança. Ela havia
      deixado a base e estava em terreno aberto. Vulnerável. O TRANSLTR era a
      única ilha na vasta escuridão. Strathmore avançava alguns passos, depois parava
      e ouvia atentamente, arma em punho. O
      único som, contudo, vinha dos geradores abaixo deles. Susan desejou puxá-Io de
      volta, retomar àsegurança da base. Para onde quer que olhasse, parecia haver
      rostos na escuridão.
      A meio caminho em direção ao TRANSLTR, o silêncio da Criptografia foi
      quebrado. Em algum lugar na escuridão, aparentemente acima deles, um bipe
      agudo rasgou a noite. Strathmore virou-se e Susan perdeu o contato. Com medo,
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