Page 64 - Fortaleza Digital
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consagram e depois distribuem as relíquias por diversas catedrais para que todos
possam admirar seu esplendor - contou, orgulhoso.
- E vocês ficaram com o... - Becker reprimiu um riso.
- Oye! É uma parte muito importante! - retrucou o oficial. - Não é como se
tivéssemos uma costela ou um dedo, como aquelas igrejas da Galícia!
Você realmente deveria ficar em Sevilha e ver as relíquias. Becker assentiu, por
polidez.
- Talvez eu passe por lá quando estiver de partida.
- Mala suerte - respondeu o policial. - Que azar. A catedral estará
fechada até a primeira missa de amanhã cedo.
- Então vou deixar para a próxima - Becker sorriu, pegando a caixa. - É
melhor eu ir andando. Meu vôo está me esperando. - Deu uma última olhada ao
redor.
- Você quer uma carona até o aeroporto? - perguntou o tenente. – Tenho uma
moto Guzzi parada aí em frente.
- Não, obrigado, posso pegar um táxi.
Na época da faculdade, Becker quase morreu dirigindo uma motocicleta. Por
isso, não tinha a menor intenção de subir em outra moto, não importava quem
estivesse ao volante.
- Como quiser - disse o outro, caminhando até a porta. - Vou apagar as luzes.
Becker colocou a caixa sob o braço. Peguei tudo mesmo? Olhou uma última vez
para o corpo. Estava completamente nu, de costas sobre a mesa, sob uma luz
fluorescente. Nada podia estar escondido. Becker se pegou olhando novamente
para a estranha deformação nas mãos. Observou por alguns instantes, prestando
atenção. O policial apagou as luzes e a sala ficou escura. 66
- Espere um pouco - disse Becker. - Acenda as luzes de novo. As luzes piscaram
e se acenderam.
Ele deixou a caixa no chão e caminhou até o corpo. Agachou-se e apertou os
olhos, fitando a mão esquerda do homem. O policial também olhou.