Page 15 - Os Manuscritos do Mar Morto
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A literatura qumrânica supriu em partes o vazio documental existente no período
intertestamentário. Por estar escrita em sua maioria na língua hebraica, podemos
visualizar com maior precisão certos conceitos teológicos e literários próprios do
ambiente palestino dos dias de Jesus e da formação das primeiras comunidades cristãs.
Percebemos atualmente – e os MQ vieram a dar mais certeza a essa afirmação – que
muitos conceitos anteriores e contemporâneos a esse período eram exclusivos ao grupo
criador apenas em seu nascimento. Posteriormente, eles acabavam sendo
compartilhados com outras comunidades religiosas.
Essa proposta de que nem tudo era peculiar a determinada comunidade religiosa
durante muito tempo é amplamente aceita pelos pesquisadores de hoje. No entanto, o
maior problema tem sido definir quais os “caminhos” percorridos entre o nascimento de
determinado conceito criado por certo grupo até o seu uso por uma outra comunidade
religiosa.
O primeiro estágio quando se trabalha na busca de paralelos é o da
“identificação”. O segundo é o que visa estabelecer como estes conceitos chegaram e
eram usados por outro grupo religioso, ou seja, procura preencher o espaço vago entre
um ponto e outro.
Nessa etapa vemos as maiores complicações. Muitos equívocos são cometidos e
vários questionamentos importantes são deixados de lado. O fato de se encontrar dois
pontos semelhantes entre os livros de Qumran e o NT não prova que tenha existido um
empréstimo direto, muito menos que tal ponto era restrito a qumranitas e cristãos. Pelo
contrário, tais pontos poderiam pertencer a um ambiente maior, mas acabamos por
entender o contrário devido à escassez de material documentário. Graças a problemas
como esse, muitas das conclusões atuais têm de ser revistas.
No decorrer deste trabalho, poderemos ver alguns exemplos convincentes que
mostram os caminhos pelos quais algumas comunidades cristãs foram influenciadas.
Outros, por sua vez, não levam em consideração os métodos investigativos necessários.
Assim, mesmo parecendo que haja algo compartilhado por Qumran e comunidades
cristãs em um pequeno aspecto, se este for analisado a luz de outros métodos ou se levar
em consideração outros fatores, percebe-se que não há analogia, podendo o ponto em
questão ser algo corrente ao ambiente palestino.
Um dos caminhos propostos à frente envolve a literatura hinária. Ela pode ser
encarada como veículo condutor de aspectos teológicos e literários, explicando como
muitos conceitos qumrânicos foram encontrados entre comunidades cristãs.