Page 19 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                  Esses  fatos  são  indissociáveis  se  atribuído  a  origem  do  grupo  formador  de  Qumran

                  como pertencente a parte do movimento essênio.
                         Embora  essa  tese  sobre  o  nascimento  da  comunidade  de  Qumran  seja  a  mais

                  aceita, ainda assim possui objeções. Uma outra proposição, a da “origem babilônica”,
                  remonta  a  um  período  anterior  ao  acima  citado.  Jerome  Murphy  O’Connor,  o  maior

                  defensor dessa tese, acredita que um grupo de judeus fervorosos que ainda residia em
                  Babilônia na época da retomada da adoração judaica pelos macabeus, resolveu voltar a

                  sua pátria com esse momento propício. Porém, após se fixarem de volta na Judéia, não

                  se contentaram com a situação da região e seguiram rumo ao deserto sob a tutela do
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                  Mestre da  Justiça.  Para sustentar essa tese, O’Connor se utiliza  em grande parte do
                  Documento de Damasco (CD), onde ele apresenta a simbólica Damasco como sendo
                  Babilônia. Esse livro, para O’Connor, seria um texto normativo que visava auxiliar os

                  judeus residentes neste ambiente pagão (O’CONNOR: 1990).   7
                         No  tocante  à  identidade  dos  habitantes  de  Qumran,  Lawrence  Schiffman,

                  professor de Estudos Judaicos da Universidade de Nova Iorque, acredita que estes ao

                  invés de essênios, pertenciam na verdade à corrente saducéia. Schiffman acredita que
                  algumas leis descritas em documentos encontrados em Qumran – principalmente em um

                  conhecido como MMT (Micsat Ma’aseh há-Torá, “Algumas Regras Relativas à Torá”)

                  – tenham mais relação com o que se sabe sobre os saduceus do que com alguma outra
                  corrente religiosa da época. Apoiando-se em pontos um tanto indefinidos, utilizando-se

                  de poucas referências e de literatura posterior ao movimento qumrânico como a Mishná,
                  insta “que ou a seita não era de essênios, mas de saduceus, ou então que o movimento

                  essênio  deve  ser  totalmente  redefinido  como  tendo  emergido  de  fontes  saducéias”
                  (1993:44).  Que  de  fato  o  movimento  teve  uma  abrangência maior  é  algo  certamente

                  concreto. O estudo das fontes clássicas pode nos mostrar o quanto o movimento essênio

                  foi múltiplo, podendo ter abarcado com vários grupos com crenças em comum. Essa
                  maneira pluralizada de enxergar os movimentos sectários do período certamente induz o

                  pesquisador  a  estabelecer  uma  relação  mais  intrínseca  entre  estes  dois  grupos,
                  provavelmente por isso dá-se a desconfiança de Schiffman em atribuir à origem dos de

                  Qumran como estritamente essênia. Esse ponto é passivo de discussão, afinal, não se
                  pode ter a certeza da concretude do movimento essênio ainda em meados do século II

                  a.C., sendo que a identidade do movimento como um todo provavelmente ainda estava


                  6  Informações mais precisas sobre o Mestre da Justiça serão dadas adiante.
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                   Tese bastante criticada por possuir muitas lacunas.
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