Page 23 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                  que tange à abdicação dos prazeres, desapego aos bens materiais, imortalidade da alma

                  e a busca por uma evolução espiritual.



                         Caio Plínio Segundo, mais conhecido como Plínio, o Velho, na sua ambiciosa
                  obra  de  37  volumes  chamada  História  Natural,  faz  uma  descrição  física  da  Judéia,

                  passando  pelo  mar  Morto  e  chegando  até  uma  comunidade  situada  às  suas  margens.
                  Plínio é o único dos três autores clássicos que fala de uma comunidade situada entre as

                  cidades de Engedi e Jericó, e assevera que os que ali residiam eram essênios.

                         Plínio  comenta  a  respeito  de  práticas  conhecidas  também por  Josefo  e  Fílon,
                  como a ausência de dinheiro e de mulheres no assentamento, inclusive suas renúncias

                  aos desejos sexuais.
                         Dentro  dos  manuscritos  descobertos  em  grutas  próximas  ao  assentamento

                  descrito por Plínio, um texto bem conservado encontrado na Gruta 1 conhecido como
                  Regra  da Comunidade (1QS), diz em início ao cap. 5: “E este é o preceito para os

                  homens da comunidade que se comprometeram a abandonar todo o mal e a aderir a

                                                                       9
                  todos os Seus mandamentos segundo a Sua vontade”.  Este trecho de 1QS escrito por
                  essênios está de acordo com o comentário de Plínio, quando este diz que




                                         “ dia após dia uma multidão de refugiados é recrutada em número igual por
                                         abundantes  admissões  de  pessoas  fatigadas  da  vida  e  dirigem-se  para  lá
                                         (Qumran)  pelos  caminhos  da  fortuna  para  adotar  seus  modos”  (V:73,
                                         tradução e grifo meus).



                         Nesse aspecto, percebe-se que tanto os essênios de Qumran como os essênios
                  (ou terapeutas)  de  Alexandria  descritos  em  De  Vita  por  Fílon,  tinham  características

                  comuns.  O  ingresso  nas  seitas  essênias  não  era  devido  à  ação  proselitista  de  seus
                  membros, mas sim por atitude espontânea e individual dos ingressos.

                         Curta,  embora  extremamente  significativa,  a  descrição  esclarecedora  deste
                  romano  naturalista  reforça  os  pontos  em  comum  entre  essênios  que  por  mais  que

                  distantes, compartilhavam de elementos estruturais similares. Plínio, assim como Fílon,

                  não deixa de demonstrar sua admiração pelos essênios, dizendo que esta “é a tribo mais
                  notável entre todas as outras do mundo inteiro” (V:73).





                  9   Para  a  citação  dos  textos  de  Qumran,  utilizo:  MARTÍNEZ,  Florentino  García.  Textos  de  Qumran,
                  Edição Fiel e Completa dos Documentos do Mar Morto. Trad. Valmor da Silva. Petrópolis: Vozes, 1995.
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