Page 24 - Os Manuscritos do Mar Morto
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                         Para  completar  a  plêiade  dos  autores  mais  importantes  que  descrevem  os

                  essênios, Flávio Josefo, em suas obras Guerra dos Judeus e Antiguidades Judaicas, faz
                  um relato rico acerca do modo de vida essênio no aspecto social e religioso. Ele, que na

                  sua juventude freqüentou uma (ou algumas) comunidade essênia, a descreve com uma
                  riqueza de detalhes muito maior do que as outras duas “filosofias” (saduceus e fariseus).

                         Apesar  de  descrições  um  tanto  precisas  sobre  o  modo  de  vida  essênio,  as
                  contribuições de Josefo não são extensas quando comenta sobre os aspectos litúrgicos

                  da  comunidade.  Isso provavelmente  se  deve  ao  fato  de  ele  não  ter  podido  participar

                  efetivamente como membro da mesma, não chegando a ser mais do que um iniciado. O
                  ingresso  de  postulantes  na  comunidade  era  marcado  por  três  anos  de  prova.  Nesse

                  tempo  era  feita  a  iniciação  aos  mistérios  da  seita,  que  abrangiam  esclarecimentos
                  religiosos  e  sectários  (sociais).  Josefo,  tendo  em  mente  que  sua  permanência  com  o

                  grupo  poderia  lhe  acarretar  contratempos,  restringiu  sua  permanência  apenas  a  um
                  período inicial (cf. HADAS-LEBEL, 1991:47).

                         As provas de sua limitação dentro do grupo são perceptíveis em seus próprios

                  comentários.  Quando  fala  a  respeito  da  prática  essênia  do  banho  ritual,  conclui  do
                  seguinte modo: “feito isto, recolhem-se todos em certos lugares onde não pode entrar

                  homem de outra seita...  o silêncio que guardam parece aos que  estão fora dali uma

                  coisa muito secreta e muito venerável” (1961:149, tradução minha). É certo que quando
                  Josefo  faz  essa  descrição, encontra-se privado  do  acesso  aos “certos  lugares”,  não

                  podendo relatar as práticas particulares dirigidas aos membros plenamente aceitos.
                         Na Regra da Comunidade de Qumran, já citado em comparação com o texto de

                  Plínio, estão descritas uma série de normas que servem para balizar o comportamento
                  do postulante e a preparação para o indivíduo se enquadrar no ambiente religioso das

                  comunidades. Em harmonia com isso, Josefo relata:



                                         Aos que desejam entrar nesta seita, não os recebem logo em suas reuniões,
                                         mas dão-lhes um ano inteiro de comer e beber com a mesma ordem como se
                                         estivessem juntamente com eles, dando também uma túnica, uma vestidura
                                         branca e uma sandália. Depois que com o tempo há dado sinal de sua virtude
                                         e continência,  recebem-no  a comer com eles e participa  de seus banhos  e
                                         lavagens, para receber com eles a castidade que deve guardar, mas não se
                                         juntam com ele para comer... (1961:150, tradução minha).


                         As  várias  citações  de  Josefo  na  Guerra,  como  a  abstinência de riquezas,
                  mulheres e escravos, a comunhão dos bens materiais, o rigor para com as atividades
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