Page 20 - Os Manuscritos do Mar Morto
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em construção. Porém, a afirmação categórica de que “a seita não era de essênios, mas
de saduceus”, é facilmente contestada quando comparada com outras evidências.
James C. Vanderkam, professor de Antigo Testamento da Universidade de Notre
Dame, acredita que os de Qumran eram essênios. Ele diz que o número de semelhanças
utilizadas por Schiffman para provar sua tese da origem saducéia é muito menor que o
de disparidades quanto à associação dos de Qumran com os saduceus. Dando uma
ênfase maior às fontes clássicas e analisando outros documentos de Qumran além do
MMT, Vanderkam confia que algumas crenças, legitimamente “anti-saducéias como a
existência de multidões de anjos e a força dominadora do destino” (1993:62), são
indícios que provam com maior evidência que estes eram essênios ao invés de saduceus.
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A palavra essênio simplesmente não existe em nenhuma parte dos MQ. Esse é
um fato aparentemente simples, porém determinante para alguns eruditos questionarem
se os de Qumran eram mesmo essênios. Gabrielle Boccaccini, da Universidade de
Michigan, em seu livro Beyond the Essene Hypothesis (Além da Hipótese Essênia,
1998), insta que Qumran não foi ocupado por essênios, mas sim por um grupo judeu
extremista. Em sua análise das fontes clássicas, o autor diferencia os escritores judeus
(Flávio Josefo e Fílon de Alexandria) dos não-judeus (Plínio, o Velho, e outros que o
utilizaram como fonte), dizendo que a abordagem feita por estes é diferente. Segundo
Boccaccini, os autores judeus estariam retratando grupos de origem essênia, o que não
acontece com os autores não-judeus, que descrevem um outro grupo de identidade
desconhecida. Boccaccini também se utiliza do contexto histórico, de textos e da
localização da seita para sua argumentação de que a comunidade de Qumran não era
formada por essênios.
Outras proposições de autores menos expressivos atribuem a seita de Qumran
como sendo caraíta, zelota ou até judeu-cristã. A discussão destas teorias mais
“exóticas” sobre a origem da comunidade (assim como outras teorias recentes que
julgam que o assentamento tenha sido uma espécie de “colônia de férias” de famílias
abastadas de Jerusalém ou um centro comercial dedicado ao fabrico de cerâmicas) faz-
se desnecessária, visto que as mais importantes conclusões contrárias à teoria essênia
foram abordadas acima.
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São vários os nomes encontrados entre os MQ que os redatores de Qumran usavam para se auto-
intitular. Palavras como: numerosos, Judá, comunidade, lote dos santos, são algumas delas. Porém,
qualquer designação que lembre a palavra essênio não existe entre os MQ.