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Montanha-russa de emoções

            Os tempos mudaram, a vida mudou, um novo vírus que à partida  parecia não passar de um causa-

         dor de uma simples gripe acabou por fazer com que o mundo desse uma volta de 180 graus e ficasse
         todo ao contrário. Tudo o que era normal deixou de o ser e tudo o que sempre nos pareceu certo e habi-
         tual foi-nos retirado.

            A dimensão na minha vida que, sem sombra de dúvidas, sofreu mais alterações foi a de nível social.
         Não me ser permitido estar com quem eu queria e quando queria foi algo que me custou muito nos pri-
         meiros meses. O contacto e afeto humanos a que estava habituada foi completamente proibido e teve de
         ser reinventado. As conversas de final de tarde num café foram substituídas por meras mensagens, os
         típicos almoços em família ao domingo foram substituídos por videochamadas que sabiam sempre a
         pouco. Já os beijos e abraços dos mais próximos foram sempre insubstituíveis e por isso foram apenas
         colocados em pausa até que tudo volte ao normal.

            A pandemia fez-me perceber pela primeira vez o quanto sou dependente dos outros, o quanto estar
         perto dos outros é importante para que eu esteja bem comigo mesma. De facto, nunca me tinha aperce-
         bido disto antes, visto que era algo habitual e que à partida o continuaria a ser. Se nesta altura já tudo
         parecia estar mal, a vida encarregou-se de conseguir piorar o meu panorama, de uma forma particular-
         mente cruel, e dar-me mais uma experiência nova, a dor de perder alguém especial neste período. E foi
         neste momento que todas as inquietações já existentes se multiplicaram por mil. Não estava preparada
         (na verdade creio que nunca se está…) para que a vida levasse alguém tão especial, muito menos sem
         sequer haver uma despedida digna. Se alguém me dissesse que as últimas interações que teríamos seri-
         am videochamadas de cinco minutos ao fim do dia, não acreditava.
            Todo este período foi e tem sido um teste às minhas emoções, mas de certa forma sinto que levo co-
         migo aprendizagens essenciais que passaram a estar presentes na minha maneira de ver o mundo e nas
         minhas ações.

            Se antes usava constantemente a típica desculpa “Hoje não me apetece, combinamos para a sema-
         na!”, hoje em dia é impensável dizê-lo. Este período veio mostrar-me que a vida é instável, nunca sabe-
         mos quando será a última vez que fazemos uma determinada coisa, e por isso enquanto temos a oportu-
         nidade de a fazer, devemos fazê-la sem pensar duas vezes.

            Também o verbo “aproveitar” ganhou um novo significado. Percebi o quão ridículo era estar com ami-
         gos ou família e dar por mim a tirar o telemóvel do bolso e começar a usar o Instagram ou o Twitter, e
         não participar nas conversas que hoje em dia não perco por nada. E isto foi um dos pontos positivos que
         a pandemia teve a capacidade de mudar na minha vida e, de certa forma, por muito estranho que isto
         soe, estou grata por num período tão negro ter conseguido retirar pontos positivos e melhorar o meu
         “eu”.

            Por muito que este período tenha sido árduo para todos nós, se tivermos a capacidade de ver o lado
         bom de todas as situações vamos levar connosco boas lições. E se formos inteligentes, caso vivencie-
         mos outra situação parecida a esta no futuro (esperemos que não…) iremos conseguir ultrapassá-la de
         uma forma mais confortável. Enquanto isso, devemos simplesmente aproveitar e usufruir do que a vida
         nos oferece no momento da melhor forma que conseguimos, pois o que podemos fazer nós contra a von-
         tade do acaso, do destino e das circunstâncias que nos ultrapassam? Somos meros peões do que a vida
         nos oferece, e por isso devemos aprender a ser felizes de acordo com as circunstâncias e tirar sempre o
         melhor partido disso.
                                                                                  Beatriz Pereira, n.º 2,  12.º CT2




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