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AS ESTAÇÕES DO HOMEM
G A B R I E L G O N Ç A L V E S
O permanentemente, e os seus sucessores ameaçam seguir
ano de 2017 do calendário Gregoriano será, acima
de tudo, um ano marcante. Não necessariamente pela po- as suas passadas.
sitiva, nem pelo contrário; apenas marcante. Existem de- Tal como nas estações do ano, começam-se a defi-
masiadas decisões que serão tomadas neste ano, decisões nir claramente estações da ideologia humana, mas, ao
precipitadas pelo calor do momento, num caldo onde flo- contrário das estações do ano, que são causadas por fato-
resce o ódio e a intolerância. Será neste ano que serão res externos, as estações da ideologia humana causam-se
eleitos (ou não) os primeiros líderes de extrema direita umas às outras, formando ciclos. As correntes nacionalis-
que a Europa experienciou nos últimos 50 anos. tas são causadas pelo medo, pela intolerância e o receio de
Apesar das guerras civis e golpes de estado em paí- invasão eminente, normalmente por uma mudança em
ses poucos desenvolvidos, o foco deste ano será, sem dúvi- qualquer outro lugar, que anuncia o surgimento de um
da alguma, a reação da Europa e América do Norte a estes ideal. A onda de nacionalismo que só parece ter tendência
problemas. Tivemos já a possibilidade de experienciar os a aumentar em 2017 foi originada por uma primavera, a
problemas causados pela reação do Oeste aos problemas árabe, que no meio de boas intenções e ideais democratas
do resto do mundo – a eleição de Donald Trump. Este pe- acabou com guerras civis e grandes migrações de refugia-
queno outono político na democracia poderá ter sido ape- dos. Esta migração começou a popularizar a ignorância e
nas o começo da primavera patriota anunciada já por al- o medo, e, tal como no século passado, a extrema direita
guns líderes de extrema direita que, provavelmente, serão vai ganhando um lugar nas mentes dos europeus. Será
eleitos para a liderança das nações mais poderosas da Uni- 2017 a decidir se este lugar vale a pena o risco da repetição
ão Europeia. A confirmar-se a ocorrência desta primavera, do ciclo das estações.
que para muitos se assemelha mais a um inverno nuclear, Desta reflexão, apenas posso concluir uma coisa: os
ocorrerá o fecho de um ciclo. Esta estação já foi vivida na humanos, ao contrário das aves, não gostam de primave-
Europa anteriormente, toda a humanidade se recorda ras, chamam por ela durante anos, para logo a seguir mi-
minimamente das consequências que o nacionalismo já grarem para outro sítio para fugir dela. O problema deste
teve no nosso modo de vida. Apesar disso, estes líderes século revela-se um pouco mais grave do que um
partidários de extrema direita que, tal como os que os “simples” genocídio e de grandes migrações, porque neste
antecederam no século passado, discriminam etnias e fe- século todo o mundo vive a sua primavera, e se as flores
cham fronteiras, estão a ter a maior subida de popularida- europeias desabrocharem, não existirá para onde migrar.
de registada nas últimas décadas. O ódio é bom persuasor, Ou talvez exista; a confirmarem-se as perspetivas para
podemos vê-lo nos antigos líderes fascistas. Apenas com o este ano, o mais seguro será mesmo esperar que as via-
recurso a alguns discursos falaciosos e a pequenos golpes gens a Marte se tornem possíveis. Se o ano não nos mar-
de propaganda, conseguiram moldar a ideologia europeia car pela política, que seja pela ciência.
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