Page 119 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Cesar era, no entender de Victor, o único ser humano, individualmente
considerado, a apresentar um drama existencial autêntico e merecedor de
atenção, um drama verdadeiro, fruto de circunstâncias que ele era incapaz de
controlar.
Cesar era um garoto preso entre as necessidades básicas de se reconhecer
merecedor da aprovação dos pais, aceito e compreendido no seu meio social,
precisando, como todos nós, justificar o motivo da própria existência, o que
no caso de Cesar era ainda mais difícil do que para a maioria porque se tratava
de justificar a existência de um gênio e, por fim, obrigado a considerar sua
própria satisfação enquanto ser consciente.
Todos estes fatores juntos pareceram ao Gatopardo um desafio fascinante.
Além disso, a inteligência aguda de Cesar tornava-o um interlocutor valioso.
Ele era capaz de análises precisas, concisas, corretas e excepcionalmente
justas.
E mais importante do que tudo isso, Cesar não era chato.
Cesar mal completara quatorze anos quando Victor se casou com a irmã dele
e o Gatopardo foi saudado e abraçado pelo garoto como irmão. Terminadas
as festividades do casamento e as férias escolares, Cesar voltara para a Europa
e as notícias retratavam o adolescente mergulhado em um trabalho árduo.
Naquele mesmo ano Cesar deveria apresentar ao mundo a primeira sinfonia
de sua autoria e, patrocinado por seus pais, abrir a temporada de gala em uma
das salas de espetáculo mais famosas e aclamadas da Europa. A fama do
menino gênio ultrapassava as fronteiras da pequena cidade de Terra Alta, da
região e do Estado para literalmente espalhar-se pelo planeta. Os pais de Cesar
eram incansáveis nas diversas táticas e projetos e não mediam gastos para a
promoção do nome e da imagem do filho prodígio.