Page 124 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 124
música e seu esforço criativo o haviam esgotado, era um herói da beleza, da
construção do sublime e do extraordinário. Os jornais, as revistas, os canais
de televisão mostravam incansavelmente a figura caricata do arco de violino
com cabeleira de fogo curvando-se subjugado a grandeza e ao peso da própria
criação.
Victor sabia que havia nisso tudo muito do dinheiro Astu Ninan pagando
pelas manchetes e depoimentos de críticos, empresários e médicos.
Sobre a qualidade da música, nem Victor e nem mais ninguém em Terra Alta
podiam opinar pela simples razão de nunca a terem ouvido. Jamais foi
apresentada ao grande público porque Cesar nunca autorizou sua divulgação,
restringindo-se tê-la ouvido, a mãe de Cesar que acompanhara cada pequeno
detalhe da sua criação e aos músicos que compunham a orquestra para o
espetáculo que não aconteceu e que eram impedidos de reproduzi-la pela lei
dos direitos autorais e por um rigoroso contrato de confidencialidade.
As primeiras mil cópias gravadas que seriam comercializadas ao final do
espetáculo foram recolhidas e sua venda proibida. Nunca se soube de algum
exemplar que tivesse escapado à busca e apreensão e a destruição.
E, no entanto, Victor preferiu o silêncio ao lhe chegaram às mãos declarações
de alguns músicos famosos, respeitados mundialmente, que haviam tido
acesso a música de Cesar misteriosamente e sobre quem Victor custava a
acreditar que se venderiam ao poder do dinheiro dos Astu Ninan, declarando
a composição de Cesar como sublime e imortal.
Foi essa a sentença, distribuída aos quatro ventos, a definir o futuro do garoto
de quatorze anos e que passaria o resto da vida tentando estar à altura do que
a família e o mundo esperavam dele.
Mas a época em que tudo isso aconteceu, mesmo a perspicácia de Victor não
o alertou para o completo significado das manchetes que invadiram os
noticiários. Apenas o passar do tempo e as muitas vezes em que Cesar estaria