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A revelação aconteceu ao sabor do acaso, como tantas vezes sucede com as
grandes descobertas. E depois de conhecidas às circunstâncias e os detalhes
do fato, Isabeau nem ao menos conseguiu atribuir-lhe a importância merecida
e não teria pensado no assunto uma segunda vez se não pela grave crise
desencadeada no íntimo de Jacques, mas que ela só avaliou com a devida
seriedade após semanas de atraso.
Tudo aconteceu durante uma das ausências dele, quando desenvolvia suas
análises de laboratório. Isabeau resolvera arrumar algumas caixas velhas,
empilhadas num dos cantos mais altos e inacessíveis do armário do quarto e
dera com um velho e muito amarelecido documento. Uma carta de
apresentação para um jovem recém formado cientista e pesquisador
interessado em participar de uma expedição às tribos remanescentes nas
profundezas da floresta Amazônica.
A carta seria um documento totalmente comum se não fosse pela assinatura
ilustre do célebre antropólogo e cientista, Claude Gustave Lévi-Strauss.
Entre as dobras do papel e grandes nódoas de umidade a testemunharem a
passagem dos anos, estavam as argumentações de Lévi-Strauss que se
empenhara em apresentar o sobrinho neto, recém graduado em arqueologia,
antropologia e etnografia.
O jovem, que a carta pretendia apresentar, herdara o nome de batismo do avô
paterno, Jacques Lorran Lévi-Strauss, meio irmão do famoso cientista e
pensador, autor da carta.
O avô, o velho Jacques Lorran, seria lembrado unicamente por esse
parentesco que era a ligação entre o proeminente antropólogo e o jovem
Jacques Lan. Pois ele próprio fora um total desconhecido que levara a vida
pintando retratos e marinhas nas ruas estreitas de Saint Paul de Vence, onde
vivera a maior parte da sua vida solitária e onde morrera tendo como única
companhia um gato siamês estrábico.