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Impulsionado pelo apadrinhamento do tio avô famoso o jovem cientista
conseguiu seu primeiro trabalho de campo e o nome Jacques Lorran assinou
o original da primeira grande publicação de suas descobertas. Fato que
mencionamos aqui apenas para ressaltar a supressão de Lévi-Strauss, numa
clara tentativa de Jacques se livrar do sobrenome que ameaçava ofuscar o
brilho que havia idealizado para si próprio.
Anos depois, já graduado também em psicologia forense e como cientista
pesquisador contratado pelo Departamento para Buscas das Origens através
da Arqueologia, Antropologia e Etnografia Aplicadas do Museu Nacional de
História Natural, ocasião em que Jacques se perdera nas planícies andinas e
descobrira as muralhas construídas com ossadas humanas, a publicação dos
trabalhos que o tornariam conhecido e respeitado nos meios acadêmicos
merecera uma versão do nome de batismo ainda mais resumida. Apenas um
arremedo do nome completo e quase só uma lembrança do som original.
O simples e definitivo, Jacques Lan, que ele haveria de adotar dali para frente,
incorporando-o ao plano de alcançar sucesso e fama como cientista
arqueólogo, antropólogo, etnógrafo e especialista em psiquiatria forense, nos
passos do seu tio avô, mas livre da influência do parentesco ou do ilustre nome
de família.
Como Jacques Lan, desenvolveu uma força própria e se acostumou a
comodidade do seu anonimato. E foi assim que chegou à Terra Alta para se
encontrar com Victor Gatopardo. Numa tarde de outono com o vento morno
adocicado pelo perfume das flores da mimosa e com o terracota e o ferrugem
pintando as folhas das árvores contra um céu cinza azulado.
Esquecido da carta assinada, anos antes, pelo ilustre tio avô.
E caíra na armadilha da paixão por Isabeau marcada por completa e
descontrolada obsessão.
Deixou de viver para apenas sobreviver por ela.