Page 367 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 367
sobre si todo o peso da produção da seiva sagrada ou o terrível fardo de
continuidade da espécie em que nem um dentre eles pode deixar de gerar filhos,
mais e mais, dois, três e talvez mais, ainda que para isso precisem condenar suas
companheiras à escravidão.”
“Inclino-me a acreditar que este é um preço demasiado alto para se pagar pelo
direito de imitir ordens e pelo privilégio do cultivo da Aska.”
“Os Mantos dominam as alturas e é um espetáculo maravilhoso vê-los em seus
voos soberbos. Chegam ao topo do mundo, tocam as moradas dos deuses, habitam
as cavernas de luxo esplêndido entre as nuvens e as estrelas, mas a que preço, ...por
misericórdia da divindade Tilsith Teray em sua sabedoria, eu me pergunto, a que
preço?”
Era um entardecer melancólico que se desenhava através do recorte na
caverna, tal e qual uma janela na rocha, deixando ver ao fundo o céu andino,
por trás da figura do velho alado encurvado sob o peso da sua própria tristeza
e perdido em raciocínios sob o mundo Res Sas, reverberando tons prateados.
Odaye Therak havia negociado uma trégua para a celebração do ciclo Sathiri,
a cerimônia sagrada de sete dias em que os alados renascidos de seus casulos
são apresentados ao povo para o reconhecimento dos novos membros da
sociedade Res Sas, plenos de seus direitos e deveres e investidos do poder de
voar.
Reuniam-se, todo o povo, todos os cerca de cento e oitenta milhões de
indivíduos alados, num imenso vale entre as altas montanhas enfeitadas com
neves eternas. Surgiam dos milhões de cavernas escavadas nas rochas que
delimitavam aquela incrível extensão de terras planas e muito férteis,
abençoada com pequenos cursos d’água, pequenos braços de rios que desciam
as montanhas em seu caminho para o mar e alimentavam nesse percurso os
pequenos lagos cujas nascentes estavam no coração da mãe Terra.