Page 368 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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E os paredões de pedra formando os precipícios inimagináveis e delimitando
                      o vale, contendo seu frio intenso e constante, seu ar seco, um lugar onde não
                      chovia  nunca  e  havia  apenas  pequenos  amontoados  de  mata,  aqui  e  ali,
                      pequenas  ilhas  verdes  na  paisagem  ocre,  com  suas  plantas  desérticas
                      incrivelmente adaptadas àquelas condições extremas de ar gelado e muito sol
                      durante todas as horas do dia, com suas folhas suculentas, as flores de cactos
                      selvagens com suas formas arredondadas e inchadas pelo armazenamento da
                      água arduamente conseguida, cheias da seiva da própria força da cordilheira,
                      vivendo naquelas terras altas por milênios, nutrindo-se da energia do coração
                      do planeta e comprovando a essência da vida.


                      Os dias do Sathiri eram a própria comprovação do prosseguimento da vida
                      para o império Res Sas. Eram o motivo e o fim para todo o árduo e incessante
                      trabalho das mães aladas e de todo o resto da sociedade para a criação da nova
                      geração de seres com asas e sua maravilhosa capacidade de voar.

                      Apresentavam-se ao povo, saudavam seus governantes, faziam oferendas e
                      rituais de agradecimento à flor branca da Ninassisanuna que lhes permitia o
                      alimento sagrado Aska, vinham para o centro do imenso vale, para o meio do
                      círculo de indivíduos que os haviam gerado e mantido protegidos e cuidados
                      até  poderem  abrir  suas  enormes  e  belas  asas,  preparando-se  para  o  seu
                      primeiro voo, seu batismo no ar.

                      Chegavam em absoluto silêncio e com esse mesmo silêncio eram recebidos pelo
                      povo reunido. Vinham trazendo sob os ombros as malhas rompidas do último
                      casulo que os havia envolvido, amparado e alimentado ao final dos nove anos
                      de seus Samay e que agora seriam deixados sob a pedra mais alta ao lado do
                      abismo, no extremo mais ao norte do extenso planalto, uma pedra sagrada em
                      que os restos dos casulos seriam servidos às aves dos Andes, às águias, aos
                      falcões, aos soberbos condores.


                      Desfaziam-se assim da sua condição de crianças, abandonavam seus casulos
                      para servirem como alimento no ciclo da vida e deixavam livres e, finalmente
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