Page 373 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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E quando Victor começou a falar, foi apenas um verbalizar de pensamentos
profusos, que precisavam sair em sons ainda que não recebessem resposta.
Naquele instante Victor não esperava de Cesar nada além da sua presença
tranquila.
Mas a verdade, que Victor nunca soube, é que mesmo contra todas as
probabilidades, mesmo em meio ao nevoeiro espesso em que sua mente
submergia, Cesar percebeu claramente a melancolia de Victor, sua profunda
dor, seu medo fluido. Ouviu-o, ora como a versão envelhecida e quase
decrépita do jovem que Victor havia sido, o amor da sua vida, ora como a
personalidade complexa e mágica de Nuna Sapaki.
Inconsciente disso, Victor começou a falar.
“__Há risco de guerra nas montanhas. Há risco de morte e sofrimento e eu não
sei o que fazer.” Estas tristes palavras de Victor formaram um eco com a voz
nasalada da imagem nebulosa de Nuna Sapaki. Mas o que mais impactou
Cesar foi perceber idêntico tom de desespero em ambos.
Alheio à tais percepções possíveis apenas a Cesar, o Gatopardo continuou
falando, quase apenas num rumor, sobre toda a indescritível inquietação que
lhe torturava o espírito.
“__Estive em um encontro com JM.Yana”, começou Victor em voz pausada,
não olhava diretamente para Cesar, ia apenas falando.
“__Você saberia o quanto isso seria improvável se estivesse no seu normal, e nunca
precisei tanto, tê-lo no seu normal, meu velho...” Fez um suspiro profundo, fixou
o Salgueiro Chorão com seus galhos curvados sob o peso das araras azuis
aninhadas para a noite, continuou. “__Concordei em recebê-lo porque ele me
enviou fotografias do corpo encontrado na escadaria do Clube de Havanófilos e
mencionou o drama daquele episódio, há anos, com os espiões disfarçados de
marceneiros em Mayuasiri Pacha, ... lembra-se? Com essa pergunta Victor
olhou para a expressão ausente de Cesar e sorriu com tristeza.