Page 372 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 372
Capítulo 24 A conversa no jardim
O jardim do lago, como era chamado, ficava numa leve depressão do terreno,
no extremo leste da propriedade e formava um dos mais belos recantos do
lugar. Diferente dos demais canteiros de Girassóis, Ipês e Junquilhos
Amarelos, ali não predominavam as flores em suas explosões de cores e
perfumes, ou os troncos poderosos dos Ipês amarelos que sustentavam os
cachos pesados e perfumados a se esparramarem pelos caminhos.
O jardim do lago era quase só grama rasteira de um verde muito claro e
uniforme, perfeito como um tapete delicadamente tecido a se estender até o
pequeno lago que lhe dava o nome e no qual, um dia, Cesar pretendia criar
um casal de cisnes, mas cuja aquisição esperava por sua recuperação, senão
completa ao menos estabilizada.
Uma única linda e majestosa árvore crescia naquele canteiro à margem do
lago, um velho Salgueiro Chorão, imenso com sua aura de sabedoria de vida
eterna e tendo em frente um banco de jardim onde Cesar se entregava à
contemplação da algazarra das araras azuis, empoleiradas nos galhos da
árvore com o alvoroço de se acomodarem para o entardecer. Cesar inebriava
os olhos com o contraste do azul turquesa das aves misturado aos vários tons
de verde e ao cristal do espelho d’água ao fundo, refletindo as nuances do céu.
Facilmente uma tela de Claude Monet.
Victor foi encontrar o cunhado e ocupou o lugar ao lado dele, deixado vago
por Isabeau, poucos minutos antes.
Chegou sem a pretensão de uma grande conversa, na verdade queria apenas
uns instantes da velha e aconchegante camaradagem de tantos anos de um
convívio cheio de confiança. Ansiava pelos momentos saudosos em que
ficavam, às vezes por horas, simplesmente fazendo companhia um ao outro,
sem necessidade de palavras.