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com freqüência a ação de seu adversário e toma a dianteira: "Se eu não o
fizer, é ele que o faz". Uma espécie de legitima defesa tomada como
princípio político. É o ponto de vista da guerra.
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Os gregos antigos sem teologia normativa: cada um tem o direito
de lhe acrescentar o que quiser e crer no que quiser.
O prodigioso volume do pensamento filosófico nos gregos (com o
prolongamento enquanto teologia através dos séculos).
As grandes forças lógicas se demonstram, por exemplo, na
ordenação das esferas do culto nas cidades particulares.
Os órficos 17 não plásticos em seus fantasmas, confinando com a
alegoria. Os deuses dos estóicos só se preocupam com o que é grande,
negligenciam o pequeno e o individual.
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Schopenhauer 18 contesta a eficácia da filosofia moral sobre os
costumes: como o artista não cria segundo conceitos. Espantoso!
É verdade, todo homem já é um ser inteligível (condicionado por
inumeráveis gerações!). Mas um estímulo mais forte de determinadas
sensações de excitação opera graças aos conceitos, reforçando as forças
morais. Não se forma nada de novo, mas a energia criadora se concentra
num lado. Por exemplo, o imperativo categórico reforçou muito a
impressão de virtude desinteressada.
Vemos também aqui que o homem individual eminentemente moral
pratica a sedução da imitação. É essa sedução que o filósofo deve
propagar. O que é lei para o exemplar supremo deve valer
17 Referência ao personagem mitológico Orfeu, poeta e músico, inventor da lira; abalado pela morte da
esposa, obteve das divindades a permissão de resgata-la nos infernos, com a condição de não olhar para
ela até atingirem ambos a claridade; partiu para sua missão, mas não resistindo, fitou-a e ela lhe foi
arrebatada para sempre (NT).
18 Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão (NT).