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O homem exige a verdade e a realiza no comércio moral com os
homens; é nisso que repousa toda vida em comum. Antecipam-se as séries
malignas das mentiras recíprocas. É disso que nasce o dever de verdade.
Permite-se a mentira ao narrador épico, porque aqui nenhum efeito
pernicioso há a temer. — Logo, quando a mentira tem um valor agradável,
é permitida: a beleza e o agrado na mentira, supondo que não prejudique. É
assim que o padre imagina os mitos de seus deuses: a mentira justifica sua
grandeza. É extraordinariamente difícil conseguir tornar novamente vivo o
sentimento mítico da mentira livre. Os grandes filósofos gregos vivem
ainda inteiramente dentro dessa justificação da mentira.
Onde nada se pode saber de verdade, a mentira é permitida.
Todo homem se deixa enganar continuamente à noite no sonho.
A tendência para a verdade é uma aquisição infinitamente mais
lenta da humanidade. Nosso sentimento histórico é algo de completamente
novo no mundo. É possível que oprima totalmente a arte.
A enunciação da verdade a qualquer custo é socrática.
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A verdade e a mentira são de ordem fisiológica.
A verdade como lei moral — duas fontes da moral.
A essência da verdade julgada segundo os efeitos.
Os efeitos conduzem à admissão de "verdades não demonstradas".
No combate dessas verdades, vivas graças à força, mostra-se a
necessidade de encontrar outra via. Seja esclarecendo tudo a partir daí, seja
elevando-se a ela a partir dos exemplos, dos fenômenos.
Maravilhosa invenção da lógica.
Predominância progressiva das forças lógicas e restrição daquilo
que é possível saber.
Reação perpétua das forças artistas e limitação ao que é digno de
ser sabido (julgado segundo o efeito).