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Mas o que é semelhante "possibilidade? Uma idéia súbita, por
exemplo, "talvez fosse". Mas como surge essa idéia? Às vezes
fortuitamente, exteriormente: uma comparação, a descoberta de alguma
analogia tem lugar. Intervém então uma extensão. A imaginação consiste
em ver rapidamente as semelhanças. A reflexão avalia em seguida
conceito a conceito e verifica. A semelhança deve ser substituída pela
causalidade.
O pensamento "cientifico" e o pensamento "filosófico" não diferem
então senão pela dose? Ou então talvez pelos domínios?
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Não há filosofia à parte, distinta da ciência: tanto numa como na
outra pensa-se da mesma forma. O fato de uma filosofia indemonstrável ter
ainda valor e, mais ainda, na maioria das vezes, uma proposição científica
provir do valor estético de semelhante filosofar, isto é, de sua beleza e de
sua sublimidade. O filosofar está ainda presente como obra de arte, mesmo
se não puder ser demonstrado como construção filosófica. Mas não ocorre
a mesma coisa em matéria científica? — Em outros termos: o que decide
não é o puro instinto do conhecimento, mas o instinto estético: a filosofia
pouco demonstrada de Heráclito possui um valor de arte superior a todas as
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proposições de Aristóteles .
O instinto do conhecimento é, portanto, dominado pela imaginação
na civilização de um povo. Ali o filósofo está repleto do pathos mais
elevado da verdade: o valor de seu conhecimento lhe garante a verdade.
Toda fecundidade e toda força motriz estão contidas nesses olhares
voltados para o futuro.
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Pode-se observar no olho como tem lugar a produção imaginária. A
semelhança conduz ao desenvolvimento mais ousado: mas também como
ocorre com outras relações, o contraste chama o contraste e assim
15 Aristóteles (384-322), filósofo grego; dentre suas obras, A política já foi publicada nesta coleção da
Editora Escala (NT).