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Apologia a arte. — Nossa vida pública, política e social desemboca
num equilíbrio de egoísmos: solução do problema: como chegar a uma
existência tolerável sem a mínima força de amor, unicamente pela
prudência dos egoísmos interessados?
Nossa época tem ódio da arte como da religião. Não quer capitular
nem pela promessa do além, nem pela promessa de uma transfiguração
artística do mundo. Ela vê nisso "poesia" supérflua, uma brincadeira, etc.
Nossos poetas estão à proporção. Mas a arte como algo sério e temível! A
nova metafísica como algo sério e temível! Queremos transpor para vocês
o mundo em imagens tais que diante delas estremecerão. Está em nosso
poder! Se vocês taparem as orelhas, seus olhos verão nosso mito. Nossas
maldições vão atingi-los!
É necessário que a ciência mostre por fim sua utilidade! Ela se
tornou nutricionista a serviço do egoísmo: o Estado e a sociedade a
tomaram a seu serviço para explorá-la segundo seus fins.
O estado normal é a guerra: só concluímos a paz para épocas
determinadas.
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Tenho necessidade de saber como os gregos filosofaram no tempo
de sua arte. As escolas socráticos eram mantidas no meio de um oceano de
beleza — que se pode ver neles? Uma prodigiosa despesa em favor da arte.
Os socráticos têm a esse respeito um comportamento hostil ou teórico.
Pelo contrário, reina em parte, nos filósofos arcaicos, um instinto
análogo àquele que criou a tragédia.
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O conceito de filósofo e seus tipos. — Que há de comum a todos?
Ora ele é o produto de sua civilização, ora lhe é hostil.