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É contemplativo como os artistas plásticos, compassivo como o
religioso, lógico como o homem de ciência: procura fazer vibrar nele todos
os ritmos do universo e exprimir fora dele essa sinfonia em conceitos. A
dilatação até o macrocosmos e, com isso, a observação refletida —
precisamente como o ator ou o poeta dramático que se metamorfoseia e, no
entanto, fica consciente de se projetar para o exterior. O pensamento
dialético escorrendo de cima como uma ducha.
Singular Platão: é entusiasta da dialética, isto é, desta reflexão.
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Os filósofos. Fisiografia do filósofo. O filósofo ao lado do cientista
e do artista.
Domínio do instinto do conhecimento por meio da arte e do instinto
religioso de unidade por meio do conceito.
Singular, a justaposição da concepção e da abstração.
Conseqüência para a civilização.
A metafísica como vazio.
O filósofo do futuro? Deve tornar-se a Corte suprema de uma
civilização artista, uma espécie de segurança geral contra todas as
transgressões.
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É necessário desvendar o pensamento filosófico no seio de todo
pensamento científico: mesmo na conjetura. Ele avança saltando sobre
leves suportes: pesadamente arqueja atrás dele o entendimento, procurando
suportes melhores depois que a sedutora imagem lhe apareceu. Um
sobrevôo infinitamente rápido dos grandes espaços! É somente uma
velocidade maior? Não. É o golpe de asas da imaginação, isto é, o salto de
uma possibilidade a outra, todas são provisoriamente tomadas por certezas.
Aqui e acolá, de uma possibilidade a uma certeza e de novo a uma
possibilidade.