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Heráclito — a legalidade e a justiça no mundo.

              Parmênides — o outro mundo por trás deste; este como problema.
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       Anaxágoras — arquiteto do mundo.

              Empédocles — amor cego e ódio cego; o que é profundamente
       irracional no que há de mais racional no mundo.

              Demócrito — o mundo é inteiramente desprovido de razão e de
       instinto; ele foi vigorosamente sacudido. Todos os deuses, todos os mitos,
       supérfluos.

              Sócrates: — nada me resta além de mim mesmo; a angústia de si
       mesmo se torna a alma da filosofia.

              Tentativa de Platão de pensar tudo até ao fim e ser o redentor.


              É necessário descrever as pessoas como descrevi Heráclito. E aí
       entrelaçar o histórico.

              No mundo inteiro reina a ação gradual; entre os gregos tudo
       caminha depressa e também declina terrivelmente depressa. Quando o
       gênio grego esgotou seus tipos superiores, o grego baixou muito
       rapidamente. Foi suficiente que uma única vez ocorresse uma interrupção e
       que a grande forma da vida deixasse de ser preenchida: tudo terminou
       imediatamente; exatamente como com a tragédia. Um único opositor
       poderoso como Sócrates — a ruptura foi irreparável. Nele se realiza a auto-
       destruição de todos os gregos. Creio que é porque ele era filho de um
       escultor. Se as artes plásticas pudessem falar, nos pareceriam superficiais;
       em Sócrates, o filho do escultor, a superficialidade transpira.


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              Os homens se tornaram mais espirituais durante a Idade Média: o
       cálculo segundo dois pesos e duas medidas, a sutileza da consciência, a
       interpretação da escrita foram os meios. Esse processo de agudizar o
       espírito sob a pressão de uma hierarquia e de uma teologia faltou à


              68  Parmênides de Eléia (515-440 a.C.), filósofo grego, fundador da metafísica com sua distinção entre o
              ser e o não-ser (NT).
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