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ao desenvolvimento de grandes individualidades foi destruído: é assim que
       a produção do gênio depende indiscutivelmente do destino dos povos. De
       fato, se as disposições para a genialidade são muito freqüentes, é raro ver
       reunidas todas as condições mais necessárias.

              Essa reforma dos gregos, tal como a sonho, se teria tornado um
       terreno maravilhoso para a produção de gênios: como nunca houve. Seria
       algo a descrever. Perdemos aí algo de indizível.


              A natureza altamente moral dos gregos se manifesta em seu caráter
       de totalidade e de simplicidade; mostrando-nos o homem simplificado,
       alegram-nos como o faz a vista dos animais.

              O esforço dos filósofos tende a compreender porque seus
       contemporâneos só se limitam a viver. Enquanto eles interpretam por si
       próprios sua existência e compreendem seus perigos, ao mesmo tempo
       conferem também a seu povo o sentido da existência.


              O que o filósofo pretende é substituir por uma nova imagem do
       universo a imagem popular.


              A ciência aprofunda o curso natural das coisas, mas não pode nunca
       comandar o homem. Simpatia, amor, prazer, desprazer, elevação,
       esgotamento, tudo isso é ignorado pela ciência. O que o homem vive e
       experimenta deve ser explicado de alguma maneira; e com isso avaliá-lo.
       As religiões retiram sua força do fato de fornecerem a medida, de serem
       uma escala de medida. Visto à luz do mito, um acontecimento assume um
       aspecto totalmente diferente. A significação das religiões tem a seu favor o
       fato de avaliar a vida humana segundo um ideal humano.

              Ésquilo viveu e combateu em vão: chegou demasiado tarde. É o
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       que há de trágico na história grega: os maiores, como Demóstenes ,
       chegaram demasiado tarde para levantar o povo.

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              Ésquilo garantiu uma elevação do espírito grego que se extinguiu
       com ele.




              76  Demóstenes (384-322 a.C.), orador e estadista grego da cidade-estado de Atenas (NT).
              77  Esquilo (525-456 a.C.), poeta trágico grego; teria escrito quase uma centena de tragédias, das quais
              somente sete chegaram até nós (NT).
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