Page 129 - As Viagens de Gulliver
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para diversão da rainha e das suas damas de companhia. Algumas destas últimas
já me tinham visitado e feito referências extraordinárias a meu respeito.
Sua Majestade e os seus acompanhantes ficaram extremamente
encantados com as minhas maneiras. Caindo de joelhos, pedira a Sua Majestade
que me desse a honra de beijar o seu régio pé, porém esta bondosa princesa
estendeu-me, em sua vez, o dedo mindinho (após me terem colocado sobre uma
mesa), que eu apertei nos meus braços, aproximando com todo o respeito os
meus lábios da sua extremidade. Fez-me várias perguntas sobre o meu país e as
viagens que tinha feito, às quais respondi com toda a clareza e brevidade que me
foi possível. Em seguida perguntou-me se seria do meu agrado viver na corte.
Curvei-me profundamente e com toda a humildade observei-lhe que era escravo
do meu amo, mas que, se isso dependesse só de mim, sentir-me-ia orgulhoso em
dedicar a minha vida ao serviço de Sua Majestade. Ela, então, perguntou ao meu
amo se estava disposto a vender-me por um bom preço. Ele, porque receava que
eu não vivesse mais de um mês, estava bastante disposto a desfazer-se de mim, e
logo se prontificou a ceder-me em troca de mil moedas de ouro. Esta soma, que
imediatamente recebeu, era constituída por moedas do tamanho de oitocentos
moydores cada uma, aproximadamente; mas, considerando a proporção de todas
as coisas entre este país e a Europa e a elevada cotação do ouro entre eles, não
teria mais valor que mil guinéus em Inglaterra. Dirigi-me então à rainha,
pedindo-lhe, como o seu mais humilde servidor e súdito que agora era, o favor de
permitir que Glumdalclitch, que sempre me tratara com tanto cuidado e carinho,