Page 149 - As Viagens de Gulliver
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perfeito, com uma janela no meio de três dos lados, gradeadas pelo lado de fora,
para evitar os acidentes nas viagens longas. No quarto lado, que não tinha janela,
foram pregados dois poderosos grampos, através dos quais a pessoa que me
levava a cavalo (sempre que me desse na vontade utilizar tal meio de transporte)
passava o cinto e me prendia à cintura. Tratava-se, geralmente, de algum criado
em quem eu podia confiar, que me levava a cavalo quando eu acompanhava o
rei e a rainha, quando desejava visitar os jardins ou, na impossibilidade de
Glumdalclitch ir, visitar alguma dama distinta ou ministro de Estado, pois
depressa comecei a ser conhecido e estimado entre os altos funcionários, mais
pelo favor em que Suas Majestades me tinham, suponho eu, que por algum
mérito próprio. Nas viagens, quando me fartava da carruagem, esse criado que
ia a cavalo prendia a minha caixa ao seu cinto e colocava-a à sua frente, sobre
uma almofada, de onde eu obtinha uma ampla perspectiva do país através das
três janelas. Dispunha neste quartinho de uma cama de campanha e de uma rede
pendurada no tecto, de duas cadeiras e uma mesa, que se encontravam
firmemente pregadas ao chão, para não serem derrubadas pelos solavancos do
cavalo ou da carruagem. E, como há muito que estava habituado às viagens
marítimas, estes movimentos, apesar de algumas vezes serem bastante violentos,
não me incomodavam muito. Sempre que desejava visitar a cidade, subia ao
meu quartinho de viagem, que Glumdalclitch segurava no colo, numa espécie de
liteira, conforme se usava no país, levada por quatro homens e acompanhada de
outros criados de libré com as cores da rainha. O povo, que ouvira falar muito
em mim, apinhava-se cheio de curiosidade em volta da liteira, sendo a rapariga
suficientemente complacente para ordenar aos portadores que parassem de
pegar em mim, para que assim me vissem melhor.