Page 152 - As Viagens de Gulliver
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A cozinha do rei era, de fato, um edifício notável, abobadado no cimo e
      com cerca de seiscentos pés de altura. A sua enorme fornalha, com mais de dez
      passos, seria tão ampla como a cúpula da Catedral de St. Paul, que eu fui medir
      de propósito mal regressei ao meu país. Mas, se eu fosse descrever a grelha, as
      gigantescas  panelas  e  tachos,  as  peças  de  carne  rolando  nos  espetos  e  muitas
      outras coisas, talvez pusessem certas reservas em acreditar-me; ou, pelo menos,
      um crítico severo era muito capaz de pensar que eu exagerava um pouco, como
      geralmente se espera da parte dos viajantes. Para evitar tal censura, receio bem
      ter  caído  no  extremo  oposto,  de  tal  modo  que,  se  esta  dissertação  alguma  vez
      fosse traduzida para o idioma de Brodingnag (que é a designação deste país) e
      conhecida lá, o rei e o seu povo teriam razões de queixa a meu respeito, pois se
      sentiriam injuriados por uma descrição menos verdadeira e mesquinha.
          Sua Majestade raramente albergava nos seus estábulos mais de seiscentos
      cavalos, atingindo estes normalmente uma altura de cinquenta e quatro a sessenta
      pés. Porém, quando saía em dias solenes, fazia-se escoltar por uma força militar
      montada  em  quinhentos  cavalos,  que  eu  julguei  ser  o  espectáculo  mais
      extraordinário que alguma vez poderia ver-se, até assistir a parte do seu exército
      em exercícios, mas disso falarei numa outra ocasião.
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