Page 31 - As Viagens de Gulliver
P. 31
aos lados da minha porta para residirem.
Também foi ordenado que trezentos alfaiates me fizessem uma roupa à
moda do país; que seis homens de letras, dos mais notáveis do império, fossem
encarregados de me ensinar a língua e, enfim, que os cavalos do imperador e os
da nobreza, fariam muitas vezes exercícios na minha presença para se
costumarem à minha estatura. Todas estas ordens foram pontualmente
cumpridas. Fiz grandes progressos no conhecimento da língua de Lilipute.
Entrementes, o imperador deu-me a honra de freqüentes visitas e também quis
auxiliar os meus professores a me instruírem.
As primeiras palavras que aprendi foram para lhe dar a perceber que
tinha grande vontade de que me concedesse liberdade, o que todos os dias lhe
repetia de joelhos. A sua resposta foi que era preciso esperar por algum tempo;
que era um assunto que não podia resolver sem ouvir a opinião do seu conselho e
que, primeiramente, era necessário que eu prometesse, sob juramento, observar
uma inviolável paz para com ele e com os seus súditos, e que enquanto esperasse,
seria tratado com toda a delicadeza possível. Aconselhou-me a alcançar, pela
minha paciência e pelo meu bom comportamento, a sua estima e a do seu povo.
Pediu-me que lhe não ficasse querendo mal, se ordenasse a certos oficiais que
me revistassem, porque era muito natural que eu trouxesse comigo armas
perigosas e prejudiciais à segurança do Estado. Respondi-lhe que estava pronto a
despir a roupa e a despejar todas as algibeiras na sua presença. Observou-me
que, conforme às leis do império, era preciso que fosse revistado por dois
comissários; que sabia muito bem que tal ato não se devia executar sem meu