Page 35 - As Viagens de Gulliver
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Assim  que  o  inventário  acima  foi  lido  na  presença  do  imperador,  este
      ordenou-me, em termos corteses, que lhe entregasse todas aquelas coisas uma a
      uma.  Primeiro,  pediu  o  meu  sabre:  dera  ordem  a  três  mil  homens  das  suas
      melhores tropas, que o acompanhavam, que o rodeassem a certa distância com
      arcos e flechas; eu, porém, não dei por esse movimento porque os meus olhos
      estavam fixos em Sua Majestade. Pediu-me, pois, que desembainhasse o meu
      sabre,  que,  embora  um  pouco  enferrujado  pela  água  do  mar,  estava  muito
      brilhante.  Desembainhei-o,  e,  em  seguida,  todas  as  tropas  soltaram  grandes
      gritos.  Ordenou-me  que  o  embainhasse  e  que  o  lançasse  para  o  chão  tão
      suavemente quanto pudesse, a seis pés de distância, pouco mais ou menos, das
      minhas correntes. A segunda coisa que me pediu foram as colunas de ferro ocas,
      referindo-se  às  minhas  pistolas;  apresentei-as  e,  por  sua  ordem,  expliquei-lhe,
      conforme pude, o uso, e, carregando-as só de pólvora, avisei o imperador para
      não se assustar, e disparei-as para o ar. O assombro, por esta ocasião, foi maior
      do que quando foi visto o sabre; caíram todos de costas como que fulminados por
      um raio, e até o imperador, que era valente, só pôde refazer-se do susto passado
      certo  tempo.  Entreguei-lhe  as  duas  pistolas  pelo  mesmo  processo  que  já  tinha
      usado com o sabre, com os sacos de chumbo e de pólvora, prevenindo-o de que
      não  aproximasse  do  lume  o  saco  de  pólvora,  se  não  queria  que  o  seu  palácio
      imperial fosse pelos ares, aviso que deveras o surpreendeu.
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