Page 33 - As Viagens de Gulliver
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mesmo metal, que nós, comissários, não pudemos levantar. Pedimos ao citado
      Homem Montanha que o abrisse e, entrando um de nós, enterrou-se em pó até ao
      joelho e esteve a espirrar durante duas horas, e outro, sete minutos. Na algibeira
      direita do colete, encontrámos um prodigioso maço com a grossura aproximada
      de três homens, amarrado com um cabo muito forte, de substâncias brancas e
      delgadas,  pegadas  uma  às  outras,  com  grandes  figuras  negras,  que  nos
      pareceram ser de escrita. Na algibeira direita, havia uma grande máquina chata,
      armada com dentes muito compridos que pareciam a paliçada que há em volta
      do  palácio  de  Sua  Majestade.  Na  algibeira  grande  do  lado  direito  do  alçapão,
      (conforme  interpretei  a  palavra  ranfulo,  pela  qual  queriam  indicar  os  meus
      calções),  vimos  um  grande  pilar  de  ferro,  oco,  ligado  a  uma  grossa  peça  de
      madeira, maior do que o pilar, e de um lado desse pilar havia outras peças de
      ferro em relevo, que seguravam uma pedra talhada em cunho; não soubemos o
      que isso era, e na algibeira direita havia ainda uma outra máquina do mesmo
      gosto.




          “Na algibeirinha do lado direito, havia muitas rodelas de metal vermelho
      e  branco  e  de  uma  grossura  diferente;  algumas  das  rodelas  brancas,  que  nos
      pareceram  ser  de  prata,  eram  de  tal  diâmetro  e  peso,  que  eu  e  meu  colega
      tivemos  certa  dificuldade  em  levantá-las.  Item,  dois  sabres  de  algibeira,  cuja
      lâmina se encaixava em uma ranhura do punho e tinha um fio muito cortante;
      estavam  metidos  numa  grande  caixa  ou  estojo.  Havia  ainda  duas  algibeiras  a
      revistar, que eram duas aberturas talhadas no alto do alçapão, mas muito juntas
      em virtude do seu ventre, que as comprimia. De fora do bolsinho direito pendia
      uma grande corrente de prata, com uma maravilhosa máquina na extremidade.
      Pedimos-lhe que tirasse para fora do bolso tudo o que estava preso à corrente, e
      pareceu-nos ser um globo parte de prata e parte de metal transparente. Pelo lado
      transparente vimos certas figuras esquisitas traçadas num círculo; julgámos que
      lhes poderíamos tocar, mas os dedos foram retidos por uma substância luminosa.
      Aplicámos  essa  máquina  junto  aos  nossos  ouvidos;  fazia  um  ruído  contínuo,
      semelhante ao de um moinho d’água, e conjecturamos que, ou é qualquer animal
      desconhecido, ou, então, a divindade que adora; no entanto, inclinamo-nos mais
      para esta última opinião, porque nos afirmou, (se nós assim o compreendemos,
      pois  se  exprimia  muito  imperfeitamente),  que  raramente  fazia  qualquer  coisa
      sem que o consultasse; chamava-lhe o seu oráculo, e dizia que designava o tempo
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