Page 94 - As Viagens de Gulliver
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Embarquei a bordo do escaler cem bois e trezentos carneiros, com pão e
bebidas em proporção e certa quantidade de carne cozida, tanta quanto os
quatrocentos cozinheiros me haviam podido fornecer. Tratei de obter seis vacas e
seis touros vivos, e igual número de ovelhas e cordeiros, com o fito de os levar ao
meu país, para fazer procriar a espécie; forneci-me também de feno e trigo. Não
me faltou vontade de levar comigo seis naturais do país, mas o rei não consentiu,
e, além de me passarem uma minuciosa busca às algibeiras, Sua Majestade fez-
me dar a minha palavra de honra de que não levaria nenhum dos seus súditos,
ainda que consentissem nisso ou mo pedissem.
Preparadas as coisas deste modo, fiz-me ao mar no vigésimo quarto dia
de Setembro de 1701, pelas seis horas da manhã, e, depois de ter navegado
quatro léguas para o norte, notei que estava o vento de sudoeste; às seis da tarde
descortinei uma ilhota que se prolongava aproximadamente meia légua para o
nordeste. Segui avante e lancei ferro do lado da costa da ilhota, que estava
abrigada do vento e me pareceu desabitada. Bebi alguns refrescos e fui
descansar. Dormi perto de seis horas, porque o dia começou a despontar duas
horas depois de eu ter acordado. Almocei, e, como o vento estava de feição,
levantei ferro e segui o mesmo rumo do dia anterior, guiado pela minha agulha
portátil. Era meu desígnio, caso me fosse possível, aproar a uma das ilhas que,
com razão, supunha situadas ao nordeste da terra de Van Diemen.
Nesse dia nada descobri; mas no imediato, pelas três horas da tarde,
depois de ter navegado, segundo os meus cálculos, perto de vinte e quatro léguas,
enxerguei um navio que se dirigia para o sudoeste. Larguei o pano todo e, ao
cabo de meia hora, o navio, que me tinha avistado, arvorou o seu pavilhão e