Page 91 - As Viagens de Gulliver
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primeiramente descobrira o escaler. Notei que a maré o tinha aproximado mais
da terra. Quando os navios se me juntaram, despi-me, meti-me na água e
avancei até cinqüenta toesas do escaler, depois do que me vi obrigado a nadar até
que o atingisse; os marinheiros lançaram-me um cabo, no qual amarrei uma das
extremidades a um buraco na proa do escaler e a outra extremidade a um navio
de guerra; não pude, porém, continuar a minha viagem, porque perdi o pé. Pus-
me então a nadar atrás do escaler e a empurrá-lo com uma das mãos, de
maneira que a favor da maré me encaminhei de tal modo para a margem, que
pude pôr o queixo fora da água e achar pé. Descansei durante uns três minutos e,
em seguida, impeli ainda o escaler até que a água me desse pelas axilas e então a
maior fadiga já tinha passado; agarrei outros cabos trazidos num dos navios e
liguei-os primeiramente ao escaler e depois a nove dos navios que me
esperavam; como o vento era de feição e os marinheiros me auxiliaram, procedi
de maneira que chegássemos a vinte toesas da margem, e como o mar recuou,
alcancei o escaler a pé enxuto e, com o auxílio de dois mil homens, de cordas e
de máquinas, consegui virá-lo, notando que poucas avarias tinha sofrido.
Não vou incomodar o leitor com a descrição das dificuldades que tive de
vencer para, com a ajuda de uma espécie de remos, que me custaram dez dias a
fazer, levar o barco ao porto real de Blefuscu, onde multidão numerosa acorreu à
minha chegada, maravilhando-se perante a visão de navio tão prodigioso. Disse
ao imperador que a minha boa sorte me fizera deparar aquele barco para me
levar a algum lugar, donde pudesse regressar à minha terra natal, e roguei a Sua