Page 92 - As Viagens de Gulliver
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Majestade que se dignasse dar as suas ordens para me ser fornecido o
equipamento necessário, assim como licença para partir. Tudo isto houve por
bem conceder-me, mas não sem antes me ter feito alguns reparos amigáveis.
Estava eu sobremaneira surpreendido de que o imperador de Lilipute,
depois da minha partida, não tivesse feito quaisquer diligências para me
encontrar; soube, porém, que Sua Majestade imperial, ignorando que eu fora
conhecedor dos seus desígnios, imaginara que eu tinha ido a Blefuscu apenas
com o intuito de cumprir a minha promessa, conforme a licença que dele
obtivera, e que regressaria em breve; mas, por fim, a minha ausência deu-lhe
cuidado e, tendo conferenciado com o tesoureiro e o resto do conluio, foi enviada
uma pessoa de distinção com uma cópia dos artigos do processo contra mim. O
mensageiro tinha instruções para representar ao soberano de Blefuscu a grande
brandura de seu amo, que se contentava em punir-me com a perda da minha
vista; que me subtraíra à justiça e que, se eu não regressasse no prazo de dois
dias, seria despojado do meu título de nardac e declarado réu de alta traição. O
embaixador acrescentou que, para manter a paz e a amizade entre os dois países,
esperaria que o rei de Blefuscu desse ordem para me fazer reconduzir a Lilipute,
ligado de pés e mãos, para ser punido como traidor.
O rei de Blefuscu, tendo solicitado três dias para deliberar sobre este
assunto, enviou uma resposta muito sensata e muito prudente. Observou que,