Page 35 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Não consegue manter um pensamento racional. Todas as vezes que tenta,

                as vozes o abafam. Mil – não, um milhão – de maníacos balbuciando para
                ele, exigindo sua atenção.
                  Cobrir os ouvidos não adianta. Ele até tenta gritar para diminuir as vozes,

                mas também não funciona.
                  Eventualmente, dão-lhe algum tipo de droga como medicação. É a única

                coisa que ajuda. Faz com que ele apague e consiga descansar.

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                  Nos dias que se seguem, ele sente os visitantes através de uma névoa de
                medicamentos e dor. Pai. Uma enorme presença que ele consegue sentir ao
                lado da cama, quase como se ainda pudesse vê-lo. O cheiro de uísque e de

                medo. Raiva e arrependimento.
                  – Sinto muito, Matt. Sinto muito por tudo. Quando você sair daqui, tudo

                vai ser diferente. Vamos nos mudar. Sair desse buraco do inferno. Encontrar
                algum outro lugar… com árvores. E grama.

                  Uma mão, tocando a sua. O toque é um choque elétrico de dor. Ele reage
                instintivamente, e afasta a mão. Sente a dor que irradia de seu pai. Ondas de

                vergonha e culpa pulsam para fora. Será que ele sabe disso? Como pode
                sentir isso?
                  Ele não sabe. Ele simplesmente sente.

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                  Outro  visitante.  Este  chega  no  momento  em  que  os  analgésicos  estão
                surtindo efeito, os comprimidos o elevam gentilmente em uma onda suave

                de esquecimento. Uma mulher. Ele sente cheiro de sabonete e… jasmim.
                Um cheiro limpo.

                  – Sinto muito, Matt – diz a mulher. – Por tudo.
                  Ela pega sua mão, e dessa vez ele não a puxa. Dessa vez, o toque é suave.

                A mulher se inclina sobre ele e beija sua testa. Enquanto ela faz isso, algo
                frio toca seu queixo. Ele ergue o braço. Uma cruz de ouro.

                  E  então  ela  se  vai,  deixando  para  trás  um  momento  de  calma,  um
                momento em que as vozes retrocederam ao plano de fundo. Quase chora de
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