Page 81 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Do prédio em frente, Matt observa o lugar. Pode sentir o cheiro de Angelo

                em um quarto no terceiro andar: pós-barba caro e o creme que ele usa na
                esperança de diminuir as rugas que vê aumentando a cada dia que passa.
                Uma  luz  vermelha  quente  vaza  do  quarto  por  uma  janela  aberta  até  uma

                pequena  varanda.  Cortinas  rosa  esvoaçam  ocasionalmente  para  fora  das
                janelas  e  depois  voltam  ao  lugar  –  um  ventilador  elétrico  soprando  no

                quarto. Angelo não está sozinho. Matt fareja. Um perfume forte, enjoativo.
                Quatro marcas diferentes.

                  Ele  deixa  seus  sentidos  vagarem  para  mais  longe.  Suor  masculino.
                Testosterona.  Falsas  declarações  de  amor  e  conforto  vindo  das  garotas.

                Proclamações de devoção eterna dos clientes.
                  Matt levanta o olhar para o céu noturno e sente a brisa envolvendo seu
                rosto, como dedos acariciando suas bochechas, apressando-o.

                  Ele se inclina sobre a beira. O espaço entre os dois prédios é enorme, mas
                ele não vai permitir que isso o impeça. Angelo está ali, a menos de quinze

                metros de onde Matt está. Ele não pode deixá-lo escapar.
                  Matt  dá  alguns  passos  para  trás.  Faz  uma  pausa.  E  então  corre  a  toda

                velocidade  e  se  lança  como  uma  gárgula,  abrindo  bem  os  braços.  Um
                momento de leveza. Um sentimento de liberdade. E então o telhado vem na

                sua direção e ele pousa.
                  Mas ele calculou mal. Seu joelho dobra e ele cai para a frente, batendo o
                rosto com força nas telhas. Ele cai, meio tonto, e desliza pela inclinação do

                telhado.
                  Atinge  a  beirada.  Seu  corpo  pende  metade  para  fora  e,  dessa  vez,  sua

                leveza faz com que seus sentidos despertem. Ele se lança para fora e agarra
                a calha antes de cair para a morte.

                  Segura-se  ali  com  uma  única  mão,  balançando  a  cabeça  e  piscando.
                Estúpido. Está ficando convencido. Precisa ser mais cuidadoso.

                  Olha para baixo, vê a varanda à sua direita. Arrasta-se por ela, usando as
                duas mãos, e cai com leveza. Encosta-se na parede.
                  Ouvindo.

                  –  Só  estou  dizendo,  querida,  é  que  você  precisa  gastar  um  pouco  de
                dinheiro se quiser parecer bem.
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